Por Jonathan Landay e Parisa Hafezi
WASHINGTON/DUBAI (Reuters) - Imagens recentes de satélite mostram grandes expansões em duas importantes instalações de mísseis balísticos iranianos que segundo avaliação de dois pesquisadores norte-americanos serviriam para impulsionar a produção de mísseis, conclusão confirmada por três altos funcionários do Irã.
A ampliação das instalações segue um acordo de outubro de 2022, no qual o Irã concordou em fornecer mísseis para a Rússia, que os tem buscado para sua guerra contra a Ucrânia. Teerã também fornece mísseis para os rebeldes Houthi do Iêmen e para a milícia libanesa Hezbollah, ambos membros do Eixo de Resistência contra Israel apoiado pelo Irã, disseram autoridades dos EUA.
Imagens tiradas pela empresa de satélites comerciais Planet Labs da base militar de Modarres, em março, e do complexo de produção de mísseis de Khojir, em abril, mostram mais de 30 novos edifícios nos dois locais, ambos situados perto de Teerã.
As imagens, analisadas pela Reuters, mostram que muitas das estruturas estão cercadas por grandes bermas de terra. Essas obras de terraplanagem estão associadas à produção de mísseis e são projetadas para impedir que uma explosão em um prédio detone materiais altamente combustíveis em estruturas próximas, disse Jeffrey Lewis, do Middlebury Institute of International Studies, em Monterey.
As expansões começaram em Khojir em agosto do ano passado e em Modarres em outubro, disse Lewis, com base em imagens dos locais.
O arsenal do Irã já é o maior do Oriente Médio, estimado em mais de 3.000 mísseis, incluindo modelos projetados para transportar ogivas convencionais e nucleares, dizem especialistas.
Três autoridades iranianas, que pediram para não serem identificadas porque não estavam autorizadas a falar publicamente, confirmaram que Modarres e Khojir estão sendo expandidas para aumentar a produção de mísseis balísticos convencionais.
"Por que não deveríamos?", disse uma autoridade.
Uma segunda autoridade iraniana disse que alguns dos novos edifícios também permitiriam a duplicação da fabricação de drones. Drones e componentes de mísseis devem ser vendidos à Rússia, drones devem ser fornecidos aos houthis e mísseis ao Hezbollah, acrescentou a fonte.
A Reuters não conseguiu confirmar de forma independente os comentários das autoridades iranianas.
A missão do Irã nas Nações Unidas não respondeu a um pedido da Reuters para comentar a expansão dos complexos. Teerã já havia negado o fornecimento de drones e mísseis para a Rússia e os houthis. O escritório de mídia do Hezbollah não respondeu imediatamente aos pedidos de comentários.
O porta-voz dos houthis, Mohammed Abdulsalam, disse que um aumento na fabricação de armas pelo Irã não teria nenhum impacto no Iêmen porque os houthis desenvolvem e fabricam aeronaves independentemente do Irã.
Lewis analisou as imagens do Planet Labs com Decker Eveleth, analista de pesquisa associado da CNA, um think tank de Washington, como parte de um projeto da Middlebury que monitora a infraestrutura de mísseis iranianos.
"Sabemos que a Rússia está em busca de capacidades de mísseis de baixo custo, e ela procurou o Irã e a Coreia do Norte", disse Lewis.
Moscou e Pyongyang negaram a transferência de mísseis norte-coreanos para a Rússia. A embaixada russa em Washington e a missão da Coreia do Norte nas Nações Unidas não responderam imediatamente aos pedidos de comentários para esta matéria.
Os dois pesquisadores norte-americanos disseram em entrevistas separadas que não estava claro nas fotos que tipos de mísseis seriam produzidos nas novas instalações, que ainda pareciam estar em construção.
Qualquer aumento na produção de mísseis ou drones de Teerã seria preocupante para os Estados Unidos, para quem os drones iranianos ajudam a sustentar o ataque da Rússia às cidades ucranianas, e para Israel, que se defende de ataques de grupos apoiados pelo Irã, incluindo o Hezbollah.
O Gabinete do Diretor de Inteligência Nacional dos EUA não quis comentar a análise dos pesquisadores.
Um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA se recusou a confirmar a avaliação, acrescentando que os Estados Unidos implementaram várias medidas, incluindo sanções, com o objetivo de restringir a produção e a exportação de mísseis e drones iranianos.
Em fevereiro, a Reuters informou que o Irã havia enviado mísseis balísticos superfície-superfície à Rússia para serem usados contra a Ucrânia. O Irã negou ter fornecido as armas. Washington disse que não podia confirmar as transferências, mas presumiu que Teerã pretendia fornecer mísseis a Moscou.
NOVOS EDIFÍCIOS E BERMAS DE TERRA
Shahid Modarres e Khojir são supervisionados pelo Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, em inglês), organização paramilitar de elite que desempenha um papel central nos programas nucleares e de mísseis do Irã. Ela controla grandes segmentos da economia iraniana e responde diretamente ao líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei.
Os complexos estão há muito tempo associados ao desenvolvimento e à produção de mísseis balísticos de curto e médio alcance e foguetes para o programa espacial do país.
Em 12 de novembro de 2011, uma enorme explosão destruiu uma grande área de Shadid Modarres associada a mísseis de combustível sólido, matando 17 oficiais do IRGC. Entre eles estava o general Hassan Moqaddam, considerado pelo Irã como o "arquiteto" de seu programa de mísseis balísticos.
A construção em Shahid Modarres, que recomeçou após a explosão de 2011, acelerou no ano passado, disse a segunda autoridade iraniana.
"Acho que os iranianos podem ter optado por não colocar bermas nos edifícios (antes da explosão) porque não queriam chamar a atenção para eles", disse Lewis. "Eles aprenderam da maneira mais difícil."
Eveleth e Lewis disseram que a longa história dos locais com o programa de mísseis do Irã —Shahid Modarres é considerado por alguns especialistas como seu local de nascimento — e as inúmeras bermas de terra sustentam a avaliação de que Teerã está expandindo a produção de mísseis balísticos.
"Quando vemos uma linha de produção inteira com bermas como essa, geralmente se trata de mísseis", disse Eveleth.
(Reportagem de Jonathan Landay e Parisa Hafezi)