Por Richard Lough e Aaron Maasho
PARIS/ADIS ABEBA (Reuters) - Investigadores franceses se encarregarão de examinar as caixas-pretas do avião da Ethiopian Airlines que caiu no fim de semana em busca de pistas sobre um desastre que provocou a suspensão do uso da frota de aviões 737 MAX, da Boeing, e deixou dezenas de famílias das vítimas revoltadas.
O acidente de domingo, ocorrido pouco depois da decolagem de Adis Abeba, matou 157 pessoas de cerca de 30 nações. Foi a segunda tragédia aérea envolvendo o novo modelo e carro-chefe da Boeing em seis meses.
Possíveis elos entre as tragédias abalaram a indústria internacional da aviação, assustaram passageiros de todo o mundo e obrigaram a maior fabricante de aviões do mundo a se desdobrar para provar a segurança de um modelo de grande procura que deveria ser o novo padrão durante décadas.
Parentes dos mortos deixaram uma reunião com a Ethiopian Airlines, nesta quinta-feira, denunciando uma falta de transparência.
"Estou com muita raiva", disse Abdulmajid Shariff, cidadão iemenita de 38 anos que perdeu um cunhado. "Eles nos chamaram para nos dar um relatório sobre os corpos e as razões da queda, mas não havia informações".
Nações de todo o mundo --incluindo os Estados Unidos, inicialmente relutantes-- suspenderam operações com os aviões do mesmo modelo, mas as empresas aéreas em geral têm conseguido substituí-los.
Quase 5 mil destes aviões foram encomendados, o que significa que as implicações financeiras para a indústria são imensas.
Após um desentendimento aparente sobre onde a investigação deveria ser realizada, os dados de voo e os gravadores de voz da cabine chegaram a Paris, e a agência francesa de investigação de acidente aéreos BEA disse que os receberá ainda nesta quinta-feira.
A investigação aumentou o sentimento de urgência surgido desde que a Agência Federal de Aviação norte-americana (FAA) suspendeu na quarta-feira os voos das aeronaves 737 MAX citando imagens de satélite e indícios do local apontando algumas semelhanças e "a possibilidade de uma causa comum" com a queda de outubro na Indonésia, que matou 189 pessoas.
Embora argumente que os aviões são seguros, a Boeing apoiou a decisão da FAA. Suas ações caíram quase 11 por cento desde o acidente, o que diminuiu seu valor de mercado em quase 26 bilhões de dólares.
Em mais um dia de luto na Etiópia, mais famílias seguiram de ônibus às plantações áridas onde o voo 302 caiu e criou uma bola de fogo depois que o piloto fez contato por rádio dizendo que estava com problemas nos controles de voo.