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França vai às urnas e centro tenta reverter derrota para manter Macron

Publicado 07.07.2024, 05:59
Atualizado 07.07.2024, 06:11
França vai às urnas e centro tenta reverter derrota para manter Macron

Os eleitores franceses vão às urnas neste domingo (7.jul.2024) para decidir a nova configuração da Assembleia Nacional da França, a Casa Baixa do Parlamento. Depois da vitória da direita no 1º turno, realizado em 30 de junho, o centro e a esquerda se uniram na chamada “frente republicana” na tentativa de barrar a ascensão de um primeiro-ministro de direita. O presidente Emmanuel Macron é de centro.

O movimento foi iniciado no último domingo (30.jun), logo depois de divulgadas as projeções dos resultados do 1º turno. O RN (Reagrupamento Nacional, direita), de Marine Le Pen, obteve 33,2% dos votos. A NFP (Nova Frente Popular, esquerda), de Jean-Luc Mélenchon, teve 28% dos votos. A coalizão Juntos (centro), da qual faz parte o Renascimento, partido de Macron, obteve 20% dos votos.

As eleições na França são distritais. O país é dividido em 577 círculos eleitorais. Para que algum candidato seja eleito no 1º turno ele precisa de 50% + 1 dos votos. Só 76 candidatos conseguiram atingir essa marca em 2024. Os outros 501 serão definidos neste domingo (7.jul).

Outra particularidade do sistema francês é que qualquer candidato que tenha atingido 12,5% no 1º turno pode concorrer no 2º. No Brasil, só 2 candidatos podem participar do 2º turno. Na França, há situações em que até 4 disputam.

A França tem um sistema semipresidencialista. O presidente é eleito diretamente, mas divide parte da responsabilidade com o primeiro-ministro, escolhido pelo Legislativo. Hoje, o primeiro-ministro francês é Gabriel Attal, do mesmo partido de Macron.

Para indicar o alguém para o cargo, é necessário que o partido ou a frente tenha pelo menos 289 deputados.

União contra a direita

Na tentativa de derrotar o partido de Le Pen, a “frente republicana” orientou seus candidatos com poucas chances de vitória, estejam eles em 2º ou 3º lugar, a desistirem de concorrer. O movimento tem o objetivo de concentrar todos os votos da esquerda e do centro em 1 único nome contra a direita.

O prazo para retirar a candidatura acabou na 3ª feira (2.jul). Ao todo, foram 224 desistências, a maioria para aderir à “frente republicana”, conforme dados do Ministério do Interior. Como resultado, das 306 disputas entre 3 candidatos que poderiam ocorrer, sobraram 89.

A secretária de Cidade e Desenvolvimento Urbano, Sabrina Agresti-Roubache, foi a 1ª integrante do governo a anunciar sua desistência do pleito. Ela ficou em 3º lugar no círculo eleitoral de Bouches-du-Rhône, em Marselha. “Uma derrota acontece; desonra, nunca”, declarou. “Nem 1 voto para o candidato de extrema-direita.

Para Le Pen, a iniciativa de barrar seu partido é uma tentativa de Macron de “frustrar o processo democrático”. Segundo ela, o presidente “planeja, mesmo que o povo se expresse enviando uma maioria de deputados do RN, impedir o RN de governar”.

A “frente republicana” não é uma novidade na França, tendo sido eficaz em outras ocasiões, como, por exemplo, em 2002, quando eleitores de diversas orientações políticas se uniram para derrotar Jean-Marie Le Pen, pai de Marine, em uma disputa presidencial.

No entanto, a eficácia dessa estratégia em 2024 permanece incerta, dada a evolução do cenário político francês e os esforços de Le Pen para suavizar a imagem do RN.

ELEIÇÕES ANTECIPADAS

O sistema de governo da França é semipresidencialista. Nele, o presidente é eleito de maneira direta pelos cidadãos para representar o Estado, enquanto o primeiro-ministro representa o governo. O premier é indicado pelo presidente e só pode ser removido do cargo em caso de dissolução do Parlamento, como fez Macron em 9 de junho.

O presidente dissolveu o Parlamento francês e convocou eleições antecipadas depois de o Renascimento ter sido derrotado pelo RN nas eleições para o Parlamento Europeu. Segundo Macron, a medida era necessária para permitir que a população francesa escolhesse seus governantes.

INDICAÇÃO DO PRIMEIRO-MINISTRO

Se os esforços do centro e da esquerda não forem suficientes e a direita vencer as eleições, o presidente, de maneira não obrigatória, nomeará um primeiro-ministro que satisfaça a maioria dos deputados.

Nesse cenário, o deputado Jordan Bardella é o principal cotado para ser o próximo premier da França. Ao nomeá-lo, Macron, que tem cerca de 3 anos de mandato pela frente, teria de governar com um primeiro-ministro que não compartilha de suas políticas. A coabitação entre o presidente centrista e um primeiro-ministro de direita configuraria um cenário político potencialmente desafiador.

Enquanto Macron é conhecido por suas políticas pró-europeias e progressistas, Bardella é descrito como um populista eurocético. Esta combinação pode resultar em impasses políticos significativos ou, na melhor das hipóteses, obrigar ambos os lados a cederem em questões cruciais para o país.

O presidente também teria suas funções reduzidas e deixaria de controlar as políticas doméstica e migratória, passando a liderar apenas as políticas externa e de defesa.

Caso Macron opte por não nomear o indicado pela maioria dos parlamentares, poderá sofrer uma moção de censura e ser derrubado do cargo.

POSSÍVEIS CANDIDATOS A PREMIÊ

Leia sobre os possíveis candidatos ao cargo de primeiro-ministro da França:

DIREITA: JORDAN BARDELLA, RN

Parlamento Europeu – 14.dez.2022 O eurodeputado, Jordan Bardella Juntou-se ao partido de Le Pen aos 16 anos. Sete anos depois, em 2019, foi escolhido para liderar o RN nas eleições europeias. Em 2022, tornou-se presidente da sigla.

Aos 28 anos, Bardella apresenta-se como um potencial “primeiro-ministro do poder de compra”, com promessas como a redução do IVA sobre energia e combustível e do imposto de renda para os jovens.

O jovem político usa o TikTok para atrair eleitores. Ele tem um perfil com mais de 1,9 milhão de seguidores. Opositores criticam sua falta de experiência e planos econômicos irreais.

CENTRO: GABRIEL ATTAL, JUNTOS

reprodução/Instagram @gabrielattal – 5.out.2023 O primeiro-ministro da França, Gabriel Attal Apelidado de “bebê Macron”, Attal foi nomeado primeiro-ministro em janeiro deste ano. Com 35 anos, é o mais jovem a ocupar o posto até então e o 1º premier do país assumidamente homossexual.

Attal entrou aos 17 anos na política como integrante do Partido Socialista e teve ascensão meteórica sob Macron. Tornou-se amplamente conhecido depois de atuar como porta-voz do governo durante a pandemia de covid-19. Também foi ministro do Orçamento e da Educação antes de assumir a liderança do governo.

O atual primeiro-ministro foi escalado para lidar com a insatisfação dos franceses em relação a Macron, que muitas vezes é visto como indiferente às necessidades do povo.

ESQUERDA A esquerda é formada por uma ampla aliança e ainda não indicou 1 único nome para o cargo de primeiro-ministro. A seguir estão alguns dos prováveis indicados.

Wikimedia Commons Da esquerda para a direita: Jean-Luc Mélenchon, Raphael Glucksmann e Laurent Berger

  • JEAN-LUC MÉLENCHON, FRANÇA INSUBMISSA – aos 72 anos, atua há décadas na política. Concorreu à presidência 3 vezes (2012, 2017 e 2022) e vem melhorando seus resultados a cada pleito. No último, ficou em 3º lugar, atrás de Macron e Le Pen.

    É descrito por muitos como um político de “extrema-esquerda”. Tem propostas de redução de impostos para os mais pobres e aumento de investimentos, retórica de guerra de classes e posições controversas na política externa, especialmente em relação à guerra em Gaza;

  • RAPHAEL GLUCKSMANN, PARTIDO SOCIALISTA – o jornalista de 44 anos encabeçou a lista de candidatos às eleições europeias de junho e conquistou cerca de 14% dos votos.

    Seu partido comandou a França nas últimas décadas, mas teve uma recente queda vertiginosa. Defende um forte apoio europeu à Ucrânia na guerra contra a Rússia;

  • LAURENT BERGER, SINDICALISTA – presidente da Confederação Europeia de Sindicatos e ex-líder da Confederação Democrática Francesa do Trabalho, um dos principais sindicatos da França. Berger tem 55 anos e histórico de oposição ao RN.

    Já disse que não pretende ser primeiro-ministro, mas seu nome tem sido cogitado como uma alternativa popular e mais moderada do que Mélenchon.

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