MADRI (Reuters) - Um chileno que foi vítima de abuso sexual do clero disse que o papa Francisco lhe afirmou em uma conversa particular que Deus o fez gay e que o ama assim, segundo o jornal espanhol El País.
O Vaticano não quis comentar a reportagem, que, se confirmada, seria uma demonstração impressionante de tolerância da homossexualidade, que a Igreja condena por ver como um distúrbio imoral se praticada ativamente.
Em uma entrevista publicada no domingo, a vítima de abusos, Juan Carlos Cruz, contou ao El País que Francisco lhe disse durante uma reunião ocorrida neste mês: "O fato de você ser gay não importa".
Segundo Cruz, o papa também lhe disse: "Deus fez você assim e ama você assim, e não importa para mim. O papa ama você assim, você deve ser feliz do jeito que é".
Cruz é uma das três vítimas que foram convidadas pelo papa para ir a Roma neste mês na esteira de um escândalo no Chile ligado aos abusos sexuais cometidos por padres e aos esforços da hierarquia da Igreja local para acobertá-los.
Depois de participarem de uma reunião sobre o acobertamento na semana passada com Francisco, todos os bispos chilenos propuseram renunciar.
Desde sua eleição em 2013, o papa mudou dramaticamente a linguagem que a Igreja usa para a homossexualidade, o que já foi visto como um tabu.
"Se uma pessoa é gay e procura Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgar?", disse o religioso em sua primeira viagem ao exterior no mesmo ano. Em 2016 ele disse ter ministrado a pessoas com tendências homossexuais não consumadas, além de homossexuais que não conseguiram se manter castos, como a Igreja lhes orienta.
"Quando uma pessoa chega diante de Jesus, Jesus certamente não dirá 'Vá embora, porque você é homossexual'", afirmou.
Em 2005 o papa Bento 16, o antecessor de Francisco, escreveu que a homossexualidade é "uma tendência forte que induz a um mal moral intrínseco".
(Por Julien Toyer)