Por Michael Georgy e Ellen Francis
BEIRUTE (Reuters) - O primeiro-ministro do Líbano anunciou a renúncia de seu governo nesta segunda-feira, dizendo que a explosão gigantesca que destruiu partes da capital Beirute e causou indignação pública era o resultado da corrupção endêmica no país.
Embora a ação do primeiro-ministro, Hassan Diab, tenha tentado responder à fúria popular por conta da explosão ocorrida no dia 4 de agosto, muitos libaneses, que estão pedindo a revisão total do establishment político, não vão se acalmar.
Em Paris, o ministro da Relações Exteriores francês, Jean-Yves Le Drian, pediu a formação rápida de um novo governo, dizendo que as esperanças do povo libanês por reformas e governança precisavam ser escutadas.
A explosão de um armazém no porto do que autoridades dizem ter sido mais de 2 mil toneladas de nitrato de amônio matou ao menos 163 pessoas, feriu mais de 6 mil e destruiu grandes porções da capital mediterrânea, se somando a meses de um colapso político e econômico que já assolava o país.
“Hoje seguimos a vontade do povo em sua demanda ao apontar os responsáveis pelo desastre que esteve oculto por sete anos, e seu desejo de uma mudança real”, disse Diab em um pronunciamento para anunciar a renúncia.
A renúncia de Diab aprofunda a crise política libanesa e pode prejudicar ainda mais o fechamento de um acordo com o FMI sobre um plano de resgate financeiro.
As negociações iniciadas em março foram suspensas por conta da inatividade nas reformas e de uma disputa entre governo, bancos e políticos por conta das vastas perdas financeiras.
Diab afirmou que a corrupção não parou no porto de Beirute mas "se espalhou por toda a paisagem política e administrativa do país" sob a proteção de uma "classe que controla o destino" do país.
O presidente Michel Aoun pediu que o governo de Diab, formado em janeiro com o apoio do poderoso Hezbollah --apoiado pelo Irã-- e de seus aliados, continue de forma interina até que um novo gabinete seja formado.
Antes do anúncio de Diab, protestos se alastraram pelo terceiro dia em Beirute, com alguns manifestantes arremessando pedras em forças de segurança que protegiam a entrada do parlamento e responderam com bombas de gás lacrimogêneo.
Para muitos dos libaneses, a explosão foi a gota d'água que faltava em uma crise que se alongava pelo colapso da economia, e pela corrupção, desperdício e governança disfuncional. Os que foram às ruas pediam mudanças estruturais e conjunturais.
"Todo o regime precisa mudar. Não fará diferença se houver um novo governo", disse o engenheiro Joe Haddad, à Reuters. "Precisamos de eleições rapidamente."
(Reportagem adicional de Laila Bassam e Samia Nakhoul em Beirute, Michelle Nichols em Nova York)