Por Gabriel Ponte
BRASÍLIA (Reuters) - Apesar de notar uma redução no volume de petróleo que chega às praias do Nordeste, o governo não sabe precisar a quantidade da substância que ainda pode atingir o litoral brasileiro, disseram autoridades nesta segunda-feira.
A dificuldade de quantificar o que está por chegar se deve a vários fatores, incluindo as correntes marítimas, além do fato de o governo não ter encontrado uma maneira precisa de monitorar o petróleo, considerando o ineditismo do desastre.
Enquanto isso, o Ibama vê danos que podem chegar na casa dos bilhões de reais.
"É uma situação inédita. Esse desastre nunca aconteceu no Brasil, até no mundo. Esse óleo não é perceptível pelo satélite", disse o ministro da Defesa, Fernando Azevedo, ao participar de uma coletiva de imprensa sobre o tema em Brasília.
"Não sabemos a quantidade derramada do que está por vir", acrescentou.
A afirmação vem após o presidente Jair Bolsonaro ter afirmado na véspera, em entrevista à TV Record, que "o pior ainda está por vir" e que pode ocorrer uma "catástrofe muito maior" no derramamento de óleo que chegou à costa brasileira, já que o material recolhido até agora seria apenas uma parte do que teria sido derramado.
Durante a entrevista, o comandante operacional da Marinha, Leonardo Puntel, destacou que nos últimos dias houve um "arrefecimento real, estatístico, da quantidade de óleo que chega às praias" e que há seis dias não há registros de petróleo chegando em Pernambuco.
"Essas correntes marítimas tomam rumos diferenciados. Muito óleo, que poderia ter sido, ou foi, lançado ao mar, pode ter pego rumo das correntes da Guiana, e ter se dirigido ao Caribe. Talvez até a maior quantidade. A gente não sabe dizer, mas é uma possibilidade. Então, dizer quanto de óleo ainda tem, é muito difícil", disse Puntel.
Desde o início de setembro praias do Nordeste brasileiro vem sendo atingidas por petróleo. A Petrobras (SA:PETR4) e as autoridades não têm dúvidas de que o petróleo seja venezuelano, mas as investigações sobre como ele foi despejado ainda estão em andamento.
Na semana passada, uma operação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal apontou o navio grego Bouboulina como o mais provável responsável pelo derramamento. O navio teria sido abastecido no Porto de José, na Venezuela e zarpado no dia 18 de julho com destino à Malásia. A empresa Delta Tankers, proprietária do navio, nega responsabilidade.
O delegado da Polícia Federal Franco Perazzoni afirmou, também durante a coletiva, que a empresa suspeita de ser a responsável pelo despejo de petróleo será ainda notificada via Interpol para que possa se manifestar sobre as investigações. Ele reiterou que na primeira fase da investigação, de caráter sigiloso, a empresa não foi contactada.
BILHÕES EM DANOS
As autoridades não souberam precisar o valor dos danos causados ao Brasil a partir do desastre, que já foi classificado pelo governo como o maior do litoral brasileiro, mas o presidente do Ibama, Eduardo Bim, afirmou acreditar que os valores nas áreas cível, ambiental e criminal podem atingir a casa dos bilhões de reais.
Do lado ambiental, Bim frisou que o limite máximo de multas no Brasil é de 50 milhões de reais e que podem ser aplicadas mais de uma, como ocorreu em outras tragédias, como as envolvendo os rompimentos recentes de barragens de mineração.
Bim ponderou, no entanto, que a multa do órgão é apenas uma parte. A área cível, disse ele, envolverá danos operacionais não só da União, mas de Estados e municípios, bem como danos ao turismo local. "Vai ser um dano na casa de bilhões, com certeza."