Por Michel Rose e Bate Felix
PARIS (Reuters) - Em pé de guerra, os sindicatos franceses defenderam nesta quarta-feira sua decisão de cortar a energia de milhares de casas, empresas e até do Banco da França para forçar o governo enfraquecido a descartar uma reforma da Previdência de grande abrangência.
Os cortes de eletricidade aumentaram a sensação de caos na segunda semana de greves de âmbito nacional, que prejudicaram os transportes, fecharam escolas e levaram mais de meio milhão de pessoas às ruas contra a iniciativa do presidente Emmanuel Macron.
Indagado em uma rádio francesa se os cortes, ilegais pela lei francesa, não foram um passo longe demais, Philippe Martinez, líder da central sindical linha-dura CGT, disse que eles são necessários para obrigar Macron a recuar.
"Entendo a revolta destes trabalhadores", disse. "Estes são cortes direcionados. Vocês entenderão que cuspir no serviço público pode revoltar alguns de nós."
Seus comentários coincidiram com um comunicado no qual o gabinete de Macron disse que o presidente descartou abandonar seus planos de reforma, mas que está disposto a oferecer melhorias em conversas com os sindicatos antes de um novo dia de tratativas entre seu primeiro-ministro e líderes sindicais.
O governo está determinado a alcançar uma trégua antes do Natal, quando milhões de franceses viajam para passar o feriado com seus familiares.
A ministra dos Transportes de Macron repudiou os cortes de energia, que atingiram ao menos 150 mil lares na terça-feira, de acordo com a operadora de energia da França, e disse que o governo pedirá a esta última que registre queixas.
"Ouvi que estão cortando a energia de empresas CAC 40, prefeituras, shopping centers. Isso já é altamente questionável", disse Elisabeth Borne, referindo-se ao índice das maiores empresas listadas na bolsa de valores do país.
"Mas clínicas, estações do metrô, brigadas de incêndio e milhares de franceses também tiveram cortes de energia. Isso está longe das formas normais de fazer greve", disse.
O endurecimento da tática dos sindicatos veio no momento em que Macron se viu forçado a mudar o principal negociador da reforma, indicando um parlamentar de seu partido para substituir o czar das pensões, Jean-Paul Delevoye, que renunciou na esteira de acusações de conflitos de interesse.
(Reportagem adicional de Marine Pennetier, Sudip Kar-Gupta e Caroline Pailliez)
((Tradução Redação São Paulo, 55 11 56447505)) REUTERS MPP