Por Sarah Morland
(Reuters) - A assistência de segurança internacional para a polícia do Haiti deve incluir salvaguardas para evitar abusos, disse a Human Rights Watch (HRW), conforme aumenta o debate sobre uma força liderada pelo Quênia para ajudar a conter o agravamento da violência das gangues.
O governo não eleito do Haiti solicitou ajuda urgente em outubro passado, quando gangues fortemente armadas expandiram seu controle sobre grandes partes do país, gerando uma crise humanitária em meio a sangrentas guerras territoriais que deslocaram cerca de 200 mil pessoas.
Preocupados em apoiar um governo que muitos haitianos consideram corrupto, nenhum país atendeu ao pedido de uma força de segurança estrangeira até o Quênia se apresentar no mês passado.
Um relatório da ONU deve ser divulgado esta semana, após o qual o plano, com o apoio dos EUA, deverá ser votado no Conselho de Segurança.
Em um relatório publicado nesta segunda-feira, a HRW disse que entrevistou 127 pessoas no Haiti e muitos relataram violência sexual generalizada e falta de necessidades básicas.
Os pesquisadores observaram que a maioria das pessoas entrevistadas apoiava uma força internacional ajudando a polícia, embora sejam necessárias salvaguardas, como relatórios mensais da situação pela ONU, supervisão independente de abusos e órgãos de investigação.
O relatório também instou a vizinha República Dominicana e os Estados Unidos a pararem de deportar migrantes de volta ao Haiti.
As missões anteriores de manutenção da paz da ONU deixaram para trás uma epidemia de cólera que matou mais de 10 mil pessoas e mais de uma centena de denúncias de abuso sexual de mulheres e crianças. Não houve reparações.
A HRW documentou dezenas de casos de estupros -- muitas vezes coletivos -- mas disse que são muito subnotificados devido ao medo de represálias e à falta de confiança nas autoridades. A maioria das vítimas com quem conversou não recebeu atendimento médico.
O governo disse que ajudou milhares de vítimas de estupro por meio de apoio como certificados legais, assistência médica e contracepção de emergência, mas grupos de direitos locais dizem que o Estado foi paralisado e a impunidade foi normalizada.