Por Mica Rosenberg
MISSION, Estados Unidos (Reuters) - Na terça-feira, mesmo dia em que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou sua intenção de pedir que militares ajudem a patrulhar a fronteira de seu país com o México, Edwin Valdez e quatro outros imigrantes da América Central atravessavam a vegetação densa de uma reserva selvagem do sul do Estado norte-americano do Texas na esperança de passarem despercebidos.
Eles haviam entrado ilegalmente nos EUA naquela manhã, conduzidos por um guia que depois os abandonou, e naquele momento se sentiam perdidos e incertos sobre como agir.
Em veículos próximos, agentes da Patrulha de Fronteira dos EUA haviam sido alertados para a movimentação de imigrantes na área, e depois de detectarem movimentos na vegetação avançaram para prender os invasores.
Foi um dia como outro qualquer no Vale (SA:VALE3) de Rio Grande, um dos pontos de travessia mais procurados por imigrantes que tentam entrar nos EUA clandestinamente.
Em poucas horas daquela manhã, 61 imigrantes, incluindo Valdez, foram detidos na área. Dez deles, incluindo quatro chineses, foram pegos com a ajuda de um cão rastreador em um campo de cana de açúcar. Dois hondurenhos foram levados sob custódia de um parque público.
Vários dos detidos disseram não ter se intimidado com a retórica dura de Trump, que rendeu manchetes em todo o mundo com tuítes nos quais se queixou da segurança na divisa e ameaçou acabar com o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) a menos que o México faça mais para "deter os grandes fluxos de drogas e pessoas".
A nova demonstração de irritação de Trump com a segurança na fronteira, atiçada no final de semana pelas notícias a respeito de uma "caravana" de imigrantes da América Central seguindo através do México rumo à divisa norte-americana, reflete a frustração mais ampla de seu governo.
Nos meses seguintes à posse de Trump, o número de imigrantes flagrados na fronteira EUA-México diminui dramaticamente e atingiu a marca de cerca de 15.700 em abril de 2017, muito abaixo dos 42.400 de janeiro daquele ano, segundo dados da Agência Alfandegária e de Proteção de Fronteira dos EUA.
Mas as prisões voltaram a crescer desde então, e nos primeiros meses de 2018 atingiram níveis iguais ou semelhantes aos vistos no último ano de seu antecessor, Barack Obama.
As prisões crescentes de famílias e menores desacompanhados na divisa é especialmente preocupante. Em março seus números ultrapassaram os dos três anos anteriores e "rivalizaram com o ano fiscal de 2014", disse Manuel Padilla, chefe da patrulha de fronteira do setor do Rio Grande, à Reuters.