Por Maja Zuvela
TOVARNIK, Croácia (Reuters) - Diante de cenas caóticas em sua fronteira com a Sérvia, a Croácia disse nesta quinta-feira não ser capaz de suportar a onda de imigrantes que buscam uma nova rota para a Europa depois que a Hungria ergueu uma cerca para mantê-los afastados, usando gás lacrimogêneo e canhões de água contra as pessoas em busca de asilo.
A União Europeia convocou para a próxima semana uma reunião de cúpula de emergência para tentar superar o desentendimento sobre a crise de refugiados, após a Croácia, país mais recente a se tornar membro do bloco, ter dito que pode ser obrigada a usar o Exército para impedir que imigrantes ilegais cruzem os Bálcãs Ocidentais em busca de abrigo seguro na Europa.
A UE encontra-se dividida sobre como lidar com o fluxo de centenas de milhares de pessoas que chegam fugindo sobretudo da guerra e pobreza em Síria, Iraque, Afeganistão e Paquistão.
A Croácia disse que 8.000 imigrantes chegaram vindos da Sérvia um dia depois de confrontos, na quarta, entre tropas de choque húngaras e refugiados munidos de pedras na fronteira do país vizinho.
O ministro do Interior croata, Ranko Ostojic, disse que o país vai fechar sua fronteira com a Sérvia caso episódios do tipo voltem a acontecer. O fechamento, pela Hungria, da fronteira mais ao sul da UE, adjacente à Sérvia, lançou pressão da migração sobre Croácia, Eslovênia e Romênia.
A polícia eslovena deteve um trem que transportava cerca de 150 imigrantes na estação de trem Dobova e disse que eles seriam enviados de volta para a Croácia. Uma equipe de TV da Reuters informou que alguns tentaram deixar o trem, mas foram parados pela polícia. Alguns recusaram água em protesto.
A Eslovênia depois parou todo o tráfego de comboios na linha principal vinda da Croácia através do ponto de fronteira e a polícia intensificou verificações na área com helicópteros e patrulhas terrestres. "Vamos devolvê-los (os imigrantes) para a Croácia no menor tempo possível", disse Anton Stubljar, um oficial da polícia local, a jornalistas.
CONFUSÕES
Na cidade de Tovarnik, na fronteira leste da Croácia, tropas de choque croatas tiveram dificuldades para manter uma multidão de homens, mulheres e crianças afastadas das linhas férreas depois que longas filas se formaram sob o calor abrasador para esperar ônibus destinados a centros de acolhimento em outras partes da Croácia.
Confusões se formaram quando a polícia tentou embarcar mulheres e crianças em ônibus com destino a centros de acolhimento na cidade próxima Zagreb. Mulheres gritavam e crianças choravam em cenas desesperadas.
Um iraquiano de Bagdá que alegou se chamar Riad disse ter sido separado de sua mulher e filho. "Somente mulheres e crianças têm agora permissão para subir nos ônibus. Minha mulher e filho se foram, e eles (os policiais) não deixam que eu me junte a eles. Meu telefone não funciona."
Grupos de imigrantes se afastaram da polícia e rumaram a pé ao longo de linhas férreas e descampados. "Eles querem nos levar para acampamentos, mas não queremos isso", disse um dos homens que se rumavam para longe.
O presidente croata se reuniu com o chefe do Exército e pediu que os militares se mantivessem de prontidão para proteger as fronteiras da imigração ilegal, noticiou a agência estatal Hina.
"A Croácia não vai ser capaz de receber mais pessoas", disse Ostojic a jornalistas em Tovarnik, ao mesmo tempo em que sugeriu que o país não permitiria simplesmente que os imigrantes se dirigissem para a Eslovênia, país que integra a zona Schengen de livre movimentação de pessoas da EU.