Por Babak Dehghanpisheh e Sylvia Westall
GENEBRA/DUBAI (Reuters) - O presidente do Irã, Hassan Rouhani, disse nesta terça-feira que o país não vai travar guerra com nenhuma nação, e a Rússia pediu que os Estados Unidos interrompam o que Moscou chamou de planos provocativos de enviar mais tropas para o Oriente Médio.
Os temores de um confronto entre o Irã e os EUA, seu inimigo de longa data, cresceram desde quinta-feira, quando dois navios-tanques foram alvo de ataques perto do Estreito de Hormuz, uma rota marítima estratégica, que Washington atribuiu a Teerã.
O Irã negou envolvimento nos ataques e disse na segunda-feira que em breve violará os limites estabelecidos para seu estoque de urânio enriquecido em um acordo nuclear de 2015 que visa conter sua capacidade nuclear.
Ultrapassar o limite de urânio no cerne do acordo provocaria uma crise diplomática, forçando os outros signatários do pacto, que incluem China, Rússia e potências europeias, a confrontarem o Irã.
O impasse levou a China a pedir cautela. Seu principal diplomata alertou que o mundo não deveria abrir uma "caixa de Pandora" no Oriente Médio, ao mesmo tempo em que criticou a pressão dos EUA sobre o Irã e apelou para que este último não rompa com o acordo nuclear histórico.
A Rússia pediu aos Estados Unidos que cessassem as ações que, segundo Moscou, parecem ser uma tentativa consciente de provocar uma guerra com o Irã, e pediu moderação em todos os lados.
"O que vemos são tentativas intermináveis e contínuas dos EUA de provocar uma pressão política, psicológica, econômica e sim militar sobre o Irã de maneira bastante provocativa", disse o vice-ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Ryabkov, segundo agências de notícias russas.
Em um discurso, Rouhani minimizou os esforços norte-americanos para isolar seu país, que considera fracassados, e insinuou que o governo do presidente Donald Trump é inexperiente em questões internacionais.
Mas ele disse que o Irã não busca um conflito.
"O Irã não travará guerra com nenhuma nação", disse Rouhani em um discurso transmitido ao vivo pela televisão estatal.
"Apesar de todos os esforços dos americanos na região e de seu desejo de cortar nossos laços com todo o mundo e de seu desejo de manter o Irã isolado, eles foram mal-sucedidos".
Na segunda-feira, autoridades iranianas fizeram vários comentários enfáticos sobre segurança, inclusive o secretário do Supremo Conselho de Segurança Nacional, Ali Shamkhani, que disse que Teerã é responsável pela segurança no Golfo Pérsico e exortou as forças dos EUA a deixarem a região.
Ainda na segunda-feira, o secretário de Defesa interino dos EUA, Patrick Shanahan, anunciou o envio de cerca de mil soldados adicionais ao Oriente Médio para o que descreveu como propósitos defensivos, citando preocupações com uma ameaça do Irã.
O novo destacamento se soma a um reforço de 1.500 tropas anunciado no mês passado em reação aos ataques contra navios-tanque em maio. Washington já havia endurecido sanções, ordenando que todas as nações e empresas parem de importar petróleo iraniano para não serem banidas do sistema financeiro global.
(Reportagem adicional de Alexander Cornwell, em Dubai; Tom Balmforth e Maxim Rodionov, em Moscou; e Ben Blanchard, em Pequim)