Por Parisa Hafezi e Francois Murphy
DUBAI/VIENA (Reuters) - O Irã anunciou nesta segunda-feira que acumulou mais urânio pouco enriquecido do que o permitido pelo acordo nuclear que firmou em 2015 com grandes potências, sua primeira grande medida em violação do pacto desde que os Estados Unidos se desligaram do acordo mais de um ano atrás.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), entidade regulatória da Organização das Nações Unidas (ONU) que monitora o programa nuclear do Irã em conformidade com o acordo, confirmou em Viena que Teerã ultrapassou o limite.
A medida pode ter consequências abrangentes para a diplomacia em um momento no qual países europeus estão tentando afastar os EUA e o Irã da beira da guerra menos de uma quinzena depois de Washington abortar ataques aéreos na última hora.
Os europeus, que repudiaram a decisão tomada pelo presidente Donald Trump no ano passado de abandonar o acordo nuclear assinado por seu antecessor, Barack Obama, haviam feito um apelo a Teerã para que se mantivesse dentro dos parâmetros do pacto.
O Irã disse que pretende fazê-lo, mas que não pode fazê-lo indefinidamente enquanto as sanções impostas por Trump o privam dos benefícios que deveria ter em troca de aceitar limites ao seu programa nuclear em cumprimento do pacto.
O ministro das Relações Exteriores iraniano, Mohammad Javad Zarif, disse que seu país ultrapassou o limite, exatamente como alertou que faria: "Dissemos de forma muito transparente o que faremos".
A ação é um teste da diplomacia europeia, já que autoridades francesas, britânicas e alemãs prometeram uma reação diplomática forte se o regime rompesse fundamentalmente com o acordo.
Um diplomata europeu disse à Reuters que existe um mecanismo do acordo para lidar com "quaisquer inconsistências", e que caberá a uma comissão conjunta de signatários decidir os próximos passos.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse que os países europeus deveriam "manter seus compromissos" e impor "sanções automáticas" ao Irã.
Em maio, o Irã anunciou que aceleraria a produção de urânio enriquecido para reagir ao endurecimento das sanções do governo Trump contra o país naquele mês.
(Reportagem adicional de Babak Dehghanpisheh em Genebra, Jeffrey Heller e Ari Rabinovitch em Jerusalém, John Irish em Paris e Elizabeth Piper em Londres)