Por Kate Holton e Jonathan Saul
LONDRES (Reuters) - A Marinha Real britânica apreendeu nesta quinta-feira um petroleiro iraniano em Gibraltar acusado de levar petróleo para a Síria, violando sanções da União Europeia, um passo dramático que pode eventualmente aumentar tensões entre o Ocidente e o governo do Irã.
O petroleiro Grace 1 foi apreendido em território britânico, na foz do Mar Mediterrâneo, depois de navegar pela África a partir do Golfo.
O ministro de Relações Exteriores do Irã convocou o embaixador britânico no país para expressar sua "muito forte objeção à captura ilegal e inaceitável" da embarcação. O gesto diplomático acabou com quaisquer dúvidas sobre a ligação entre o Irã e o navio tanque, que usa uma bandeira do Panamá e estava registrado como sendo operado por uma empresa em Cingapura.
Dados de navegação vistos pela Reuters sugerem que o navio carregava petróleo iraniano carregado na costa do país, embora seus documentos digam que o petróleo era do vizinho Iraque.
As autoridades de Gibraltar que apreenderam a embarcação justificaram a medida devido às sanções europeias contra a Síria que estão em vigor há anos, sem fazer referência à fonte do petróleo.
Mas, embora a Europa tenha proibido os embarques de petróleo para a Síria ainda em 2011, ainda não havia nenhum registro de uma apreensão de navio no mar.
Diferentemente dos Estados Unidos, a Europa não tem amplas sanções em vigor contra o Irã.
"É a primeira vez que a UE fez algo tão em público e de forma tão agressiva. Eu imagino que isso também foi coordenado de alguma maneira com os EUA, dado que forças de um membro da Otan estiveram envolvidas", disse Matthew Oresman, sócio da empresa de advocacia Pillsbury Winthrop Shaw Pittman, que presta consultoria a empresas sobre sanções.
"É provável que isso tenha sido um sinal para a Síria e o Irã-- assim como para os EUA-- de que a Europa leva o cumprimento das sanções a sério e a UE também pode responder à provocação iraniana relacionada às negociações nucleares em andamento", acrescentou.
Autoridades em Gibraltar não fizeram referências à origem do petróleo ou à propriedade do navio após a apreensão.
Mas a probabilidade de a carga ser iraniana indica uma relação entre esse incidente e um novo esforço dos Estados Unidos para deter todas as vendas globais de petróleo bruto do Irã, o que Teerã descreveu como uma "guerra econômica" ilegal contra o país.
Países europeus têm tentado se manter neutros no confronto, enquanto os Estados Unidos têm aumentado o tom-- o presidente Donald Trump suspendeu ataques aéreos contra o Irã poucos minutos antes de eles serem concretizados no mês passado.
Em um comunicado, o governo de Gibraltar informou que tinha motivos razoáveis para acreditar que o Grace 1 transportava seu carregamento de petróleo bruto para a refinaria de Banyas, na Síria.
"Essa refinaria é propriedade de uma entidade que está sujeita às sanções da União Europeia contra a Síria", disse o ministro-chefe de Gibraltar, Fabian Picardo. "Com o meu consentimento, nossas agências portuárias e de aplicação da lei buscaram a assistência dos fuzileiros navais reais para realizar esta operação."
Um porta-voz da primeira-ministra britânica Theresa May saudou a decisão de Gibraltar.
A Espanha, que questiona a posse de Gibraltar pelos britânicos, disse que a ação foi motivada por um pedido dos Estados Unidos à Grã-Bretanha e parece ter ocorrido em águas espanholas. O Ministério das Relações Exteriores britânico não respondeu a um pedido de comentário.