Por Nidal al-Mughrabi e Jeffrey Heller
GAZA/JERUSALÉM (Reuters) - Israel retomou nesta terça-feira os ataques aéreos contra a Faixa de Gaza depois que um cessar-fogo proposto pelo Egito não foi capaz de conter o lançamento de mísseis por militantes do Hamas.
O conflito que já dura uma semana parece ter atingido um ponto de virada, com o Hamas desafiando tanto os pedidos de países árabes e ocidentais por um cessar-fogo como as ameaças de Israel de intensificar sua ofensiva, incluindo uma possível invasão da região densamente povoada com 1,8 milhão de habitantes.
De acordo com o esboço do cessar-fogo anunciado pelo Egito --vizinho de Gaza e cujo governo apoiado pelo militares tem se desentendido com o Hamas-- uma mútua "redução" deveria ter começado às 9h no horário local (3h no horário de Brasília), com as hostilidades cessando dentro de 12 horas.
O braço armado do Hamas, a Brigada Izz el-Deen al-Qassam, rejeitou o acordo de cessar-fogo, uma proposta que incluía apenas em termos gerais algumas das principais demandas do movimento, e disse que sua batalha com Israel deveria "aumentar em ferocidade e intensidade".
Mas Moussa Abu Morzouk, uma autoridade política de alto-escalão do Hamas presente no Cairo, disse que o movimento, em busca de um acordo capaz de aliviar as restrições nas fronteiras com o Egito e Israel que enforcam a economia israelense, ainda não havia tomado uma decisão final sobre a proposta do Cairo.
Os militares israelenses disseram que desde a hora na qual o acordo deveria começar a vigorar, o Hamas havia lançado 76 foguetes contra Israel. O sistema antimísseis israelense interceptou nove projéteis, enquanto os outros não causaram vítimas ou danos, de acordo com os militares de Israel.
Seis horas após o que deveria ter sido o início da trégua, Israel retomou os ataques contra Gaza. Os militares disseram ter como alvo pelo menos 20 lançadores de foguetes escondidos pelo Hamas, além de túneis e armazéns de armas.
Um civil palestino morreu durante um ataque aéreo em Khan Younis, aumentando o número de mortos na Faixa de Gaza para 188 em oito dias, incluindo ao menos 150 civis, entre eles 31 crianças, de acordo com as autoridades médicas de Gaza.
Não foram registradas fatalidades em Israel, muito devido ao sistema antimísseis, mas as sirenes de alerta contra foguetes fizeram das corridas aos abrigos uma rotina diária para centenas de milhares de pessoas em todo o país.
A escalada das hostilidades ao longo da última semana foi provocada pelo assassinato no mês passado de três seminaristas israelenses na Cisjordânia, e pelo assassinato por vingança, no dia 2 de julho, de um jovem palestino em Jerusalém. Israel disse na segunda-feira que três judeus sob custódia da polícia confessaram ter matado o palestino.
KERRY CONDENA O HAMAS
Sirenes soaram nesta terça- feira em áreas até 130 quilômetros ao norte da Faixa de Gaza. As Brigadas Qassam assumiram a responsabilidade por alguns dos lançamentos de foguetes.
Em Viena, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, deu apoio a Israel: "Não posso condenar o suficiente as ações do Hamas em lançar foguete de maneira tão descarada, em grandes números, em face de um esforço de boa-vontade por um cessar-fogo."
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, cujo gabinete de segurança votou com placar de 6 x 2 à favor da trégua nesta terça-feira, avisou que Israel responderia fortemente se os foguetes continuassem a serem lançados.
Ele disse esperar por "apoio integral dos membros responsáveis da comunidade internacional" no caso de uma intensificação dos ataques israelenses em resposta ao desprezo do Hamas pela trégua.
Mais cedo, Sami Abu Zuhri, um porta-voz do Hamas em Gaza, disse que as demandas feitas pelo movimento devem ser atendidas antes do cessar-fogo.
O presidente palestino, Mahmoud Abbas, que conseguiu entrar em acordo com o Hamas em abril para liderar a formação de um governo de unidade no mês passado, pediu que a proposto fosse aceita, disse a agência de notícias oficial palestina Wafa.
Abbas deve chegar ao Cairo na quarta-feira para negociar com o presidente Abdel Fattah al-Sisi, disse o porta-voz do líder palestino. A Liga Árabe também acolheu a plano de cessar-fogo durante uma reunião na segunda-feira.
Israel mobilizou dezenas de milhares de soldados para uma ameaça de invasão a Gaza caso os foguetes continuem a serem lançados.
(Reportagem adicional de Allyn Fisher-Ilan, Maayan Lubell em Jerusalém, Noah Browning em Gaza e Michael Georgy e Yasmine Saleh no Cairo)