Por Crispian Balmer
ROMA (Reuters) - Os migrantes recolhidos no mar por navios de resgate têm de ser enviados aos países que apoiam as ONGs de caridade, disse o ministro italiano das Relações Exteriores, Antonio Tajani, nesta sexta-feira, exigindo que o pacto de migração da União Europeia (UE) seja reformulado.
Seus comentários foram feitos após Berlim confirmar, nesta semana, que estava apoiando financeiramente três organizações não governamentais (ONGs) alemãs que operam no Mediterrâneo e regularmente trazem migrantes para a Itália.
A notícia irritou o atual governo italiano, que está lutando para lidar com um aumento acentuado no fluxo de migrantes desde que assumiu o poder, há um ano, e acusa as instituições de caridade de incentivar as pessoas a fazer a perigosa travessia -- algo que as organizações negam.
Os ministros do Interior da UE não conseguiram, de forma inesperada, chegar a um acordo sobre um novo pacto migratório na quinta-feira, após Roma afirmar que precisava de mais tempo para revisar o texto.
"Queremos fazer um acordo para um novo pacto. As ONGs com bandeira alemã ou de outro país devem pegar os migrantes e levá-los para seus países", disse Tajani à televisão estatal RAI.
A Itália recebeu 133.170 migrantes de barco até o momento este ano, contra 70.796 no mesmo período de 2022, constrangendo a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, que assumiu o poder prometendo conter o fluxo de recém-chegados do norte da África.
Sua coalizão governista acusa os navios de caridade de atuarem como um serviço de táxi para os migrantes e introduziu uma legislação este ano para restringir suas operações. As ONGs afirmam que recolheram apenas cerca de 5% de todos aqueles que tentaram chegar à Itália em 2023, acrescentando que seu único objetivo é salvar vidas.
No passado, a Itália entrou em conflito com seus aliados europeus por causa dos navios de caridade, incluindo um grande desentendimento com a França em novembro passado, quando o país se recusou a permitir que uma embarcação operada por uma ONG francesa trouxesse 230 pessoas para terra.
O barco acabou levando os migrantes diretamente para a França.
Nesta semana, Meloni escreveu para o chanceler alemão, Olaf Scholz, que havia tomado conhecimento com "espanto" da iniciativa alemã de financiar os grupos de caridade. A ministra alemã das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, encontrou-se com Tajani na quinta-feira e defendeu a decisão, dizendo que os grupos estavam salvando vidas.