Por Robin Pomeroy
CANNES, França (Reuters) - O diretor japonês Hirokazu Kore-eda venceu a Palma de Ouro de Cannes, no sábado, pelo filme “Shoplifters”, um drama familiar aclamado pela crítica, com impensáveis reviravoltas na trama.
O prêmio, para o diretor que já ganhou prêmios no festival anteriormente, desafiou especulações de que a Palma poderia ser dada a uma diretora feminina, com três fortes candidatas, em um ano em que escândalos sexuais assolaram Hollywood.
A atriz italiana Asia Argento, que acusou o ex-produtor Harvey Weinstein de assédio sexual, disse que havia abusadores entre o público que ainda não haviam sido denunciados.
Argento afirmou que Weinstein a estuprou durante o festival de Cannes, em 1997, quando tinha 21 anos. “Este festival era onde ele caçava”, disse Argento, em um discurso, antes da premiação.
Weinstein negou as acusações de sexo não consensual, e um advogado representando-o afirmou que as denúncias de Argento eram completamente falsas. O agente de Argento baseado em Londres, Steve Kenis, não estava imediatamente disponível para fornecer mais detalhes.
“Mesmo hoje à noite, sentados entre vocês, estão aqueles que ainda precisam ser responsabilizados por suas condutas contra mulheres”, disse Argento, na cerimônia black-tie.
“Vocês sabem quem são, mas, mais importante, nós sabemos quem vocês são. E não vamos permitir que vocês continuem escapando”, encerrou, aplaudida.
A advogada de Weinstein na Itália, Filomena Cusano, afirmou que as alegações de Argento eram completamente falsas, e que Argento e Weinstein tiveram uma relação consensual.
“Este é claramente um momento doloroso para a senhora Argento, mas a narrativa é falsa”, disse Cusano, em um comunicado. “O senhor Weinstein deseja apenas o melhor para a senhora Argento.”
Depois da cerimônia, Cate Blanchett, que chefiou um júri com cinco mulheres e quatro homens, disse: “Mulheres e homens no júri adorariam ver as vozes de diretoras femininas mais representadas”, acrescentando que foi “muito difícil” selecionar um vencedor.
“Mas, no fim das contas, acho que ficamos completamente impressionados com a maneira como as performances foram entrelaçadas com a visão da direção”, disse, em relação a “Shoplifters”.
O segundo colocado, o Grand Prix, foi para a sátira de Spike Lee chamada “BlacKkKlansman”, baseada em uma história verdadeira de um policial negro que se infiltrou na Ku Klux Klan, na década de 1970.
Blanchett afirmou que o fim do filme, com imagens do protesto da extrema direita em Charlottesville, Virginia, no último mês de agosto, e o presidente Donald Trump culpando “os dois lados” pela violência mortal, “tirou o ar do cinema”.
Uma diretora feminina, Nadine Labak, do Líbano, venceu o Prêmio do Júri - efetivamente, a medalha de bronze - por “Capharnaum”, um drama realista sobre negligência na infância nas favelas de Beirute.
Cinquenta anos depois de ajudar o festival de Cannes a ser cancelado, em 1968, em solidariedade a protestos de estudantes trabalhadores, Jean-Luc Godard, 87 anos, recebeu a Palma de Ouro especial pela sua colagem de sons e imagens, “The Image Book”.
O polonês Pawell Pawlikowski venceu Melhor Direção por “Cold War”, romance que se move entre as fazendas da Polônia e os clubes de jazz de Paris, entre os anos 1940 e 1960.
“Girl”, drama belga sobre uma adolescente transgênero que tenta ser bailarina, venceu a Câmera de Ouro por melhor estreia em direção, com Lukas Dhont.
Jafar Panahi, diretor iraniano que não pode deixar o Irã e, em teoria, está proibido de fazer filmes, venceu o Melhor Roteiro por “3 Faces”, em conjunto com Nader Saeivar.
O prêmio foi dado em conjunto com outro filme, “Happy As Lazzaro”, escrito e dirigido pela italiana Alice Rohrwacher. OLBRENT Reuters Brazil Online Report Entertainment News 20180520T193611+0000