Por Kylie MacLellan e William James
LONDRES (Reuters) - O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, pode ter dificuldade para ratificar o acordo da separação britânica da União Europeia no Parlamento, já que um dos líderes do Legislativo se recusou a permitir uma votação do acordo nesta segunda-feira.
Faltando somente 10 dias para a desfiliação, agendada para 31 de outubro, a ruptura voltou a ficar em xeque, já que a classe política britânica discute se o país deve sair com um acordo, sair sem um acordo ou convocar outro referendo.
O presidente da Câmara dos Comuns, John Bercow, disse que uma votação não deveria ser permitida nesta segunda-feira porque o mesmo tema havia sido debatido no sábado, quando oponentes transformaram o grande dia do Brexit de Johnson em uma humilhação.
"Em suma, a moção de hoje é, na substância, a mesma que a moção de sábado, e a Câmara (dos Comuns) decidiu o assunto. As circunstâncias de hoje são, na substância, as mesmas das circunstâncias de sábado", disse Bercow ao Parlamento.
"Minha decisão, portanto, é que a moção não será debatida hoje, já que seria repetitivo e desordeiro fazê-lo", afirmou Bercow, provocando a ira de parlamentares pró-Brexit, que disseram que foram privados da chance de votar o acordo de Johnson.
Bercow disse que o governo ainda pode conseguir a ratificação do pacto do Brexit até 31 de outubro se tiver os números de que necessita no Parlamento. Johnson ficou decepcionado com a decisão, disse um porta-voz.
Mas a ação do presidente da Câmara significa que o governo terá que tentar levar adiante a legislação necessária para a ratificação, um processo que oponentes estão tramando para minar com emendas que destruiriam o acordo do premiê.
No sábado, Johnson foi emboscado por oponentes do Parlamento que exigiram uma mudança no andamento da ratificação do pacto, sujeitando o premiê a uma lei que o obriga a pedir um adiamento até 31 de janeiro.
Em uma reviravolta que ilustra até que ponto o Brexit esgarçou as normas de Estado britânicas, Johnson enviou a nota à UE sem assiná-la – e acrescentou outra carta assinada argumentando contra o que qualificou como uma prorrogação profundamente corrosiva.
O secretário do Brexit, Steve Barclay, disse que o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, recebeu o pedido de adiamento, que considerou válido, e que está avaliando-o.
A UE, que está envolvida na crise do Brexit desde que 52% dos britânicos escolheram a desfiliação em um referendo de 2016, decidiu no domingo que prefere ganhar tempo a se apressar para decidir o pedido de adiamento de Johnson.
(Reportagem adicional de Gabriela Baczynska em Bruxelas e Elizabeth Piper em Londres)