Por Matthias Williams e Andrew Osborn
KIEV/MOSCOU (Reuters) - Um jornalista russo dissidente que, segundo relato de autoridades, havia sido assassinado em Kiev ressurgiu nesta quarta-feira no meio de uma transmissão ao vivo sobre sua morte, supostamente cometida pelo serviço de segurança estatal ucraniano.
Na terça-feira autoridades da Ucrânia disseram que Arkady Babchenko, um crítico de 41 anos do presidente Vladimir Putin e da política da Rússia para a Ucrânia e a Síria, foi morto a tiros em seu apartamento e que sua esposa o encontrou em uma poça de sangue.
Seu suposto assassinato desencadeou uma guerra de palavras entre Kiev e Moscou, uma onda de críticas das capitais europeias e de Washington e temores nas comunidades jornalísticas ucraniana e russa.
Mas nesta quarta-feira um Babchenko comovido apareceu diante dos repórteres dizendo que participou de uma operação especial da Ucrânia para impedir uma ação russa contra sua vida e que está bem.
"Gostaria de pedir desculpa pelo que todos vocês tiveram que passar", disse Babchenko, que pareceu à beira das lágrimas em alguns momentos, aos repórteres. "Desculpem, mas não havia outra maneira de fazê-lo. Separadamente, gostaria de pedir desculpa à minha esposa pelo inferno que ela enfrentou".
O ressurgimento de Babchenko provocou consternação, e depois comemorações e aplausos de jornalistas presentes ao boletim à imprensa.
Depois ele agradeceu o Serviço de Segurança Ucraniano (SBU) por salvar sua vida e disse que a coisa mais importante foi que outros grandes atos de terror foram frustrados.
Ele não especificou quais foram estes atos planejados, mas o SBU disse ter recebido informações sobre uma trama para matar 30 pessoas na Ucrânia, incluindo Babchenko, e ter conseguido impedi-la. O serviço de segurança não quis informar quem são as 29 outras pessoas.
O SBU disse ter detido um cidadão ucraniano recrutado pela Rússia para encontrar alguém que matasse Babchenko. Ele recebeu 40 mil dólares para organizar o assassinato, 30 mil dólares para pagar o assassino e 10 mil dólares para ser um intermediário, segundo o serviço de segurança.
"Conseguimos não somente acabar com essa provocação cínica, mas também documentar a preparação deste crime vergonhoso dos serviços especiais russos", afirmou o chefe do SBU, Vasyl Hrytsak.
O procurador-geral Yuriy Lutsenko, que apareceu ao lado de Babchenko, disse ter sido necessário forjar a morte do jornalista para que os organizadores do complô acreditassem ter tido sucesso.
O Ministério das Relações Exteriores disse nesta quarta-feira que ficou feliz por Babchenko estar vivo no final das contas, mas que Kiev usou sua história como propaganda.
(Reportagem adicional de Tom Balmforth e Maria Kiselyova em Moscou, Pavel Polityuk, Olena Vasina e Natalia Zinets em Kiev)