Por Olena Vasina e Sergei Karazy
KIEV (Reuters) - O jornalista dissidente russo que forjou sua própria morte na Ucrânia, Arkady Babchenko, disse nesta quinta-feira que sentiu que teve que realizar o truque porque temia ter o mesmo destino do ex-espião russo envenenado Sergei Skripal.
Autoridades ucranianas relataram na noite de terça-feira que Babchenko, um crítico ao Kremlin, havia sido baleado em seu apartamento em Kiev. Imagens chocantes de Babchenko deitado em uma poça de sangue foram publicadas e autoridades sugeriram que a Rússia estava por trás do assassinato, algo que Moscou negou categoricamente.
Um dia depois, Babchenko apareceu vivo publicamente e autoridades da segurança da Ucrânia disseram ter forjado a morte dele para frustrar e expor o que descreveram como um plano russo para assassiná-lo.
Isto gerou críticas de alguns defensores da mídia e comentaristas que questionaram se o truque e a manifestação falsa de pesar e a atitude de culpar a Rússia que gerou tinham enfraquecido a credibilidade do jornalismo em si e de Kiev, dando ao Kremlin uma propaganda de presente ao longo do processo.
Babchenko respondeu em entrevista conjunta em Kiev nesta quinta-feira, dizendo que havia seguido adiante com o truque, organizado por autoridades da segurança da Ucrânia, porque temia por sua vida.
"Todos que dizem que isto prejudica a confiança em jornalistas: o que você fariam no meu lugar, se eles viessem até você e dissessem que há um alvo em você?", disse Babchenko, alegando que preocupações com sua vida tiveram que ser priorizadas frente a preocupações com ética jornalística.
Babchenko, que disse estar exausto após participar da elaborada fraude, disse que quando autoridades da segurança da Ucrânia o abordaram com informações sobre um plano russo para matá-lo, "minha primeira reação foi: vá para o inferno, eu quero arrumar uma mala e desaparecer para o Polo Norte".
"Mas então eu percebi, onde você se esconde? Skripal também tentou se esconder".
Autoridades britânicas dizem que Skripal, um ex-agente duplo russo, foi envenenado em março com um agente de nível militar que age no sistema nervoso na cidade inglesa de Salisbury, onde morava após deixar a Rússia em uma troca de espiões.
O Reino Unido diz que a Rússia é culpada pelo envenenamento. Moscou nega a acusação.
Babchenko disse que agora mora em um local seguro e que se sente seguro por enquanto.
Seu suposto assassinato incitou uma guerra verbal entre a Ucrânia e a Rússia, que estão em desacordo desde que uma revolta popular na Ucrânia em 2014 derrubou um governo apoiado pela Rússia em favor de um apoiado pelo Ocidente.
O truque também gerou condenação internacional, em parte porque diversos proeminentes russos críticos a Putin foram mortos nos últimos anos, três deles na Ucrânia. Grupos da oposição e organizações de direitos humanos dizem que o Kremlin está por trás dos assassinatos. O Kremlin nega.
(Reportagem adicional de Matthias Williams e Natalia Zinets)