Por Mathieu Bonkougou e Nadoun Coulibaly
OUAGADOUGOU (Reuters) - O presidente interino de Burkina Fasso, Isaac Zida, disse nesta segunda-feira que o Exército vai rapidamente ceder o poder para um governo de transição encabeçado por um líder definido por consenso, em uma tentativa de responder às acusações de que ele usurpou o poder em um golpe militar.
O presidente que controlou o país durante vários anos Blaise Compaoré renunciou após dois dias de protestos desencadeados pela sua tentativa de estender seu mandato por meio de uma emenda à Constituição.
No sábado, o Exército apontou o tenente-coronel Zida como chefe de Estado interino, em uma decisão criticada pelos políticos na oposição, pela União Africana e pelas potências Ocidentais que pedem o retorno a um governo civil.
"Nosso entendimento é que o Poder Executivo seja dirigido por um governo de transição, mas dentro de um quadro constitucional que vamos estar atentos", disse Zida em um encontro com diplomatas e jornalistas na capital, Ouagadougou, sem dar prazos para a mudança.
"Não estamos aqui para usurpar o poder, sentar e dirigir o país, mas para ajudar o país a sair desta situação", acrescentou.
O anúncio aconteceu depois de uma série de reuniões de crise no domingo entre Zida e líderes da oposição depois que milhares se reuniram para se manifestar contra a nomeação dele no Place de la Nation, cenário de protestos violentos na semana passada nos quais o Parlamento foi incendiado.
Segundo a Constituição do país da África Ocidental, o presidente da Câmara dos Deputados deveria assumir a Presidência em caso de renúncia do mandatário, com a missão de organizar novas eleições em até 90 dias. Contudo, o presidente da Câmara já teria deixado o país, junto com outros dirigentes do regime de Compaoré.
O próprio Compaoré chegou na vizinha Costa do Marfim no sábado, segundo confirmou o governo do país.
Ainda no domingo, o Exército abriu fogo contra manifestantes que ficaram na sede da televisão estatal em antecipação ao anúncio de um novo líder. Um manifestante foi morto.
A situação era de calmaria nesta segunda-feira, com os bancos reabrindo e o trânsito voltando a encher as ruas empoeiradas da capital. Um toque de recolher noturno segue estabelecido.
A nomeação de Zida marca a sétima vez que um militar assumiu o poder como chefe de Estado em Burkina Fasso desde que o país ganhou independência da França em 1960.
Benewende Stanislas Sankara, membro do partido de oposição UNIR/MS, demonstrou preocupação com o papel do Exército em supervisionar o governo.
"Ninguém pode colocar a sua confiança no Exército. Mas, agora, as autoridades militares no poder parecem estar agindo de boa fé", ele disse à Reuters.