Por Emilie Madi
BEIRUTE (Reuters) - Após retirar sua família do vilarejo de Seddiqine, no sul do Líbano, Feryal Mehsen voltou para buscar seus pertences. Foi então que um ataque aéreo israelense atingiu as proximidades.
Agora em um abrigo em Beirute, senta-se para ler as mensagens de amigos e parentes que buscam saber se ela sobreviveu à explosão.
"Você ainda está viva? Ouvi dizer que você está morta", perguntou-lhe um homem em uma gravação de voz.
O bombardeio de Israel em vilarejos do sul do Líbano, atingindo o que diz serem locais ligados ao grupo Hezbollah, apoiado pelo Irã, expulsou dezenas de milhares de pessoas como Mehsen, 58 anos, de suas casas.
Os moradores de Seddiqine já estavam acostumados com os bombardeios esporádicos na área próxima ao vilarejo, durante meses de ataques entre fronteiras desencadeados pela guerra em Gaza, que começou há um ano, mas não estavam preparados para a repentina escalada da última segunda-feira.
"Todas as pessoas saíram correndo, mas eu não entro em pânico facilmente, então ajudei meus vizinhos a sair. Depois entrei novamente e ajudei minha família a sair comigo", disse Mehsen.
Ela saiu com a filha e os netos, levando-os para a cidade de Tiro, no sul do país, antes de retornar a Seddiqine para recolher seus pertences. Foi quando ocorreu o ataque aéreo.
"O foguete caiu na minha frente. Fiquei chocada. Não conseguia ouvir e nem ver depois disso. Havia poeira por toda parte. Então, fui embora rapidamente", disse.
À medida que os ataques israelenses se intensificavam no sul do Líbano, com o Hezbollah disparando contra alvos no norte de Israel, a família se juntou à multidão de pessoas deslocadas que buscavam refúgio na capital do Líbano, Beirute.
Eles acabaram no mesmo abrigo que Mehsen havia usado durante o último grande conflito entre Israel e o Hezbollah, em julho de 2006.
"Agora a situação está muito mais difícil", disse.
"CLIMA DE GUERRA"
No mesmo abrigo, Souad Mahde, 63 anos, registrava seu nome após fugir de Qsaibah, seu vilarejo no sul do Líbano.
"Anteontem (segunda-feira), os ataques começaram a se aproximar e os aviões estavam no céu. Estávamos com medo", disse.
Quando os ataques começaram a se aproximar do vilarejo a partir dos campos dos seus arredores, moradores de Qsaibah fugiram.
"A primeira coisa que pensei foi em levar algumas roupas para poder me trocar se chegássemos a algum lugar. Apenas o básico e remédios, é claro. Nada mais do que isso. Ninguém se preocupa mais com coisas como a casa, porque o medo toma conta", disse.
Enquanto pessoas do sul do Líbano se dirigiam para o norte, as estradas eram tomadas por um tráfego intenso. Uma viagem que normalmente levaria duas horas se transformou em uma jornada de um dia inteiro.
"Nossa saída foi muito lenta. O trânsito estava horrível. Foi muito difícil. Andamos um pouco e paramos um pouco. Houve ataques aqui e ali até chegarmos a Beirute. Levamos até a noite", disse.
Chegar ao seu destino não lhe trouxe uma sensação de paz.
"Mesmo em Beirute, há um clima de guerra. É claro, estamos em uma guerra", disse.