Por Tom Perry e Laila Bassam
BEIRUTE (Reuters) - Líderes libaneses indicaram o diplomata Mustapha Adib como primeiro-ministro nesta segunda-feira sob pressão do presidente da França, Emmanuel Macron, que visitará Beirute para apelar pela adoção de reformas com a meta de afastar a nação do Oriente Médio de um abismo financeiro.
Como sua economia está devastada por uma crise financeira, uma parte de Beirute foi arrasada por uma explosão enorme no porto no dia 4 de agosto e as tensões sectárias estão aumentando, o Líbano enfrenta a maior ameaça à sua estabilidade desde a guerra civil de 1975-90.
Adib, ex-embaixador na Alemanha, foi escolhido horas antes da chegada prevista de Macron à capital, sua segunda visita em menos de um mês. O presidente francês pressionará os políticos a sancionarem reformas que doadores exigem para combater a corrupção e o desperdício antes de liberarem auxílio financeiro.
Autoridades libanesas de alto escalão disseram que a mediação de Macron foi essencial para se chegar a um acordo a respeito de um novo premiê nas 48 horas que transcorreram até surgir um consenso a respeito de Adib --na semana passada, políticos estavam em um impasse quanto ao nome a escolher.
"A oportunidade para nosso país é pequena, e a missão que recebi depende de todas as forças políticas reconhecerem isso", disse Adib, que angariou o apoio de quase todos os principais partidos do Líbano em consultas lideradas pelo presidente Michel Aoun.
Ele pediu a formação de um governo em tempo recorde, o início imediato de reformas e um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). As conversas do Líbano com o FMI a respeito de um apoio vital estão travadas desde o começo de julho.
No passado, a formação de governos chegou a demorar meses.
"Não há tempo para conversas e promessas... é hora de trabalhar com a cooperação de todos", disse Adib, acrescentando que pretende formar uma equipe de especialistas competentes.
Mais tarde, Adib, que tem doutorado em Direito e Ciências Políticas, visitou as áreas mais atingidas pela explosão portuária, que matou cerca de 190 pessoas e feriu seis mil.
"Nossas crianças morreram. Não o reconhecemos", gritou-lhe um transeunte quando ele inspecionava as áreas devastadas de Gemmayze e Mar Mikhael. Outro quis trocar um aperto de mãos com Adib, que usava máscara devido à luta do país com um aumento de casos de coronavírus.
A explosão, causada pelo que autoridades dizem ter sido 2.750 toneladas de nitrato de amônio armazenadas no porto, levou à renúncia do governo anterior liderado por Hassan Diab, hoje atuando como interino.
De outubro para cá, a crise derrubou a moeda libanesa, congelou depósitos mantidos por um sistema bancário paralisado e aumentou a pobreza e o desemprego. Décadas de corrupção e desperdício da elite sectária são a causa central.
(Por Tom Perry, Laila Bassam e Ahmad Kerdi em Beirute e Elizabeth Pineau em Paris)