Por Daniel Ramos
LA PAZ (Reuters) - A presidente interina da Bolívia, Jeanine Áñez, aceitou retirar militares das áreas de protestos e prometeu revogar uma lei que lhes garante ampla discrição no uso da força como parte de um acordo preliminar de "pacificação" alcançado neste domingo com líderes dos protestos.
Em troca de concessões, mais de uma dezena de líderes de grupos indígenas, fazendeiros e sindicatos que participaram das negociações aceitaram pedir que seus seguidores parem com as manifestações.
O acordo de 12 pontos se segue à aprovação unânime pelo Congresso boliviano no sábado de um projeto de lei para anular as contestadas eleições e abrir caminho para uma nova eleição sem o ex-presidente Evo Morales, o que representou um avanço no impasse político do país. Áñez sancionou a lei neste domingo.
Pelo menos 30 pessoas morreram em conflitos entre manifestantes e forças de segurança desde as eleições no dia 20 de outubro, que foi cancelada por acusações de fraude. A maioria das mortes aconteceu após a renúncia de Morales, no dia 10 de novembro.
Líderes sociais culpam os militares pelas mortes. O governo de Áñez nega as acusações.
"Se não há necessidade para o Exército estar nas ruas, ele não estará", disse Áñez em comentários transmitidos pelo canal estatal de televisão no final da negociações no palácio presidencial.
"O Exército foi destacado devido à necessidade extrema", disse. "Não foi para abusar de ninguém ou para demonstrar poder."
Como parte do acordo, oficiais militares continuarão fazendo guarda em empresas estatais estratégicas para prevenir o vandalismo. O acordo também prevê que o governo se comprometa a proteger líderes sociais e parlamentares de perseguição e providencie indenizações a famílias de pessoas mortas ou presas nos protestos.
Manifestantes antigoverno haviam suspendido os bloqueios de estradas --incluindo um em uma usina de gás natural onde nove pessoas foram mortas em conflitos nesta semana-- antes das negociações do final de semana.
As conversas serão retomadas às 17h deste domingo (horário local) para finalizar um projeto de lei que Áñez disse que enviaria ao Congresso para aprovação ainda neste domingo.
As negociações de domingo irão incluir pela primeira vez Andrónico Rodriguez, um influente líder cocaleiro que convocou os protestos depois que Áñez tomou a presidência citando a linha de sucessão constitucional.