Por John Ruwitch e Clare Jim
HONG KONG (Reuters) - A líder de Hong Kong, Carrie Lam, adiou indefinidamente neste sábado uma proposta de lei que permitiria extradições para a China continental, num recuo dramático após uma revolta provocar os maiores e mais violentos protestos da cidade em décadas.
O projeto de lei de extradição, que valeria para os sete milhões de habitantes de Hong Kong, bem como cidadãos estrangeiros e chineses, foi visto por muitos como uma ameaça ao Estado de Direito na antiga colônia britânica.
Cerca de um milhão de pessoas marcharam em Hong Kong no domingo passado contra o projeto, segundo os organizadores do protesto, o maior da cidade desde que multidões se opuseram à repressão de manifestações pró-democracia em torno da Praça Tiananmen, em 4 de junho de 1989.
Manifestações continuaram ao longo da semana e foram recebidas com gás lacrimogêneo, balas de borracha, mergulhando o centro financeiro asiático em turbulência e pressionando Lam.
"Após repetidas deliberações internas nos últimos dois dias, anuncio que o governo decidiu suspender a emenda legislativa, reiniciar nossa comunicação com todos os setores da sociedade, fazer mais trabalhos de explicação e escutar diferentes visões da sociedade", disse Lam numa coletiva de imprensa.
Opositores políticos pediram que o projeto fosse descartado por completo. Os organizadores do protesto disseram que vão em frente com outro comício no domingo para exigir que Lam desista.
O episódio foi uma das reviravoltas políticas mais significativas sobre o governo de Hong Kong desde que a Grã-Bretanha devolveu o território à China em 1997, e isso colocou em dúvida a capacidade de Lam de liderar a cidade. Também pode ser uma dor de cabeça para Pequim.
Perguntada repetidamente se pensa em renunciar, Lam evitou responder diretamente e apelou ao público para "outra chance".
As deliberações sobre a lei de extradição começaram em fevereiro e Lam insistiu em que ela fosse aprovada em julho.
Mas os protestos mudaram a equação. Rachaduras começaram a aparecer na base de apoio para o projeto com vários políticos pró-Pequim e um assessor sênior de Lam dizendo que a discussão do projeto de lei deveria ser adiada por enquanto.
O jornal Sing Tao publicou neste sábado que o principal funcionário da China responsável pela política de Hong Kong, o vice-primeiro-ministro Han Zheng, se encontrou com Lam em Shenzhen nos últimos dias.
Lam não confirmou se a reunião aconteceu, mas assumiu a decisão de suspender a lei, que teve apoio do governo central.
Steve Tsang, cientista político da SOAS em Londres, disse que Pequim provavelmente ordenou que Lam adiasse o projeto.
"Acho que os dias de Carrie Lam estão contados ... Pequim não pode se dar ao luxo de demiti-la imediatamente, porque isso seria uma indicação de fraqueza."
O escritório do governo chinês encarregado dos assuntos de Hong Kong expressou "apoio, respeito e compreensão" da decisão de Lam de suspender o projeto de lei.
Políticos pró-democracia, respondendo ao anúncio de Lam, disseram que a suspensão não foi suficiente.
"Carrie Lam perdeu toda a credibilidade entre o povo de Hong Kong. Ela deve renunciar", disse Claudia Mo, legisladora e membro do campo pan-democrata, que se opôs ao projeto.
Além do clamor público, o projeto de lei fez com alguns dos magnatas de Hong Kong começarem a transferir recursos para o exterior. E altos oficiais da polícia disseram que a recusa de Lam em atender a opinião pública estava semeando ressentimento na força, que já estava sendo prejudicada pela acusação.