BARCELONA (Reuters) - O presidente do Parlamento regional da Catalunha, Roger Torrent, um dos líderes da campanha pela independência da região, disse nesta terça-feira que foi alvo de espionagem política por meio de uma escuta telefônica, acusando o governo espanhol de ser cúmplice ou negligente.
As tensões entre os líderes separatistas catalães e o governo de Madri estão altas há anos, e uma reportagem publicada nos jornais Guardian e El País segundo a qual o telefone de Torrent foi grampeado dificilmente ajudará.
"Na Espanha, está se realizando espionagem política contra adversários políticos", disse Torrent.
"Se o governo espanhol tinha conhecimento disto, terá sido cúmplice de um crime. Se não tinha conhecimento disto, seria um sintoma muito preocupante de negligência política e falta de consciência de supostas práticas ilegais".
Mais cedo nesta terça-feira, o escritório do primeiro-ministro espanhol disse que o governo "não está ciente" de qualquer espionagem e acrescentou: "Qualquer intervenção em um celular sempre é realizada de acordo com a lei que exige autorização judicial".
O porta-voz de Torrent disse que ele "não está envolvido em atividades criminais, como terrorismo ou tráfico de drogas, que justificariam uma ordem para intervir em seu telefone".
Guardian e El País escreveram que Torrent e dois outros separatistas foram alertados por pesquisadores que trabalham com o WhatsApp que seus telefones foram invadidos com um programa de espionagem chamado Pegasus, desenvolvido pela empresa israelita NSO Group.
O NSO, que tem entre os clientes forças da lei e governos de todo o mundo, não quis dizer se vendeu o Pegasus à Espanha, mas disse que o software é operado "unicamente por agências de governo autorizadas para combater o terror e crimes graves e proteger a segurança pública".
O Facebook, que é dono do WhatsApp, não quis comentar a alegação de que o celular de Torrent foi grampeado.
No ano passado, o WhatsApp disse que 1.400 de seus usuários foram alvo do Pegasus e que o ataque usou seu sistema de videochamada para enviar vírus danosos a aparelhos portáteis.
O Pegasus foi ligado a episódios de vigilância política no México, nos Emirados Árabes Unidos e na Arábia Saudita, de acordo com o Laboratório do Cidadão da Universidade de Toronto, que pesquisa a vigilância digital.
(Por Inti Landauro, Joan Faus, Belén Carreño, Tova Cohen, Akanksha Rana)