Por Antonio Denti
PALERMO, Itália (Reuters) - Até 700 pessoas podem ter morrido depois que um barco de pesca cheio de imigrantes naufragou após deixar a costa da Líbia durante a noite deste domingo, o que pode ter sido o maior desastre no mar Mediterrâneo num momento em que milhares de pessoas tentam fugir da pobreza e da guerra rumo à Europa.
Autoridades de alto escalão da União Europeia, cujo programa de proteção de fronteiras tem sido deixado de lado e alvo de críticas de grupos humanitários internacionais, afirmaram que é necessária ajuda urgente.
A chefe de Política Externa da UE, Federica Mogherini, afirmou que os ministros de Relações Exteriores do bloco europeu vão discutir o assunto durante um encontro a ser realizado em Luxemburgo na segunda-feira.
Caso seja confirmado o desastre desta madrugada, subirá para 1.500 o número total mortos desde o começo do ano como resultado do fluxo de imigrantes que tentam fugir da insegurança na África Subsaariana e no Oriente Médio.
Somente na semana passada, cerca de 400 imigrantes morreram tentando alcançar a Itália vindos da Líbia, depois que o barco no qual viajavam naufragou em alto-mar.
Neste domingo, 28 pessoas foram resgatadas e 24 corpos foram recuperados até agora do barco de 20 metros de comprimento que afundou a cerca de 110 quilômetros da costa líbia, ao sul da ilha italiana de Lampedusa, de acordo com informações da guarda costeira italiana.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) afirmou posteriormente que mais 50 pessoas foram resgatadas dentre os 700 que, estima-se, estavam à bordo.
"Eles estão literalmente tentando encontrar pessoas vivas entre os corpos mortos flutuando na água", disse o primeiro-ministro de Malta, Joseph Muscat.
Em entrevista ao Canal+, o presidente francês, François Hollande, disse que a UE deve fazer mais, argumentando que os esforços de resgate e prevenção a desastres demandam "mais barcos, mais voos aéreos e uma batalha mais intensa contra o tráfico de humanos."
"Mais países da UE precisam assumir responsabilidades pela situação dos refugiados", disse também o ministro da Justiça da Suécia, Morgan Johansson, que defendeu a expansão da operação Triton, o programa de proteção às fronteiras europeias que hoje só funciona dentro de um limite de cerca de 50 quilômetros da costa da Itália.
O programa anterior de procura e resgate "Mare Nostrum" acabou cancelado no ano passado porque alguns políticos acreditavam que ele encorajaria os imigrantes a deixar seus países, pois aumentariam suas esperanças de serem resgatados.
"Esse desastre confirma o quão urgente é restaurar nossa robusta operação de resgate em alto-mar e estabelecer meios legais de se alcançar a Europa", disse o máximo representante do Acnur, Antonio Guterres.
O primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, pediu um encontro emergencial com líderes da UE nesta semana, dizendo que "nós não podemos permanecer insensíveis quando todo dia temos um massacre no Mediterrâneo."
Renzi também afirmou que a Itália não pode lidar com essa situação sozinha, insistindo no combate aos traficantes de pessoas. "Estamos pedindo para que não nos deixem sozinhos", disse a repórteres, após uma reunião de gabinete.
A representante do governo alemão para assuntos de imigração, refugiados e integração, Aydan Ozoguz, afirmou que o clima mais quente com a troca de estação, propicia mais migrações e que, desta forma, as missões de resgate devem ser imediatamente retomadas.
"Foi uma ilusão pensar que o corte do "Mare Nostrum" iria impedir que pessoas se arriscassem em viagens perigosas pelo Mediterrâneo", disse ela.
Autoridades italianas disseram que 17 navios da Marinha e da guarda costeira, navios mercantes na área e um barco de patrulha de Malta, bem como aeronaves militares, estavam envolvidos na operação de busca e salvamento, coordenada pela a guarda costeira da Itália.
Ainda não havia uma decisão sobre para onde serão levados os sobreviventes e os corpos que foram recuperados no mar.