Por Cassandra Garrison e Hugh Bronstein
BUENOS AIRES (Reuters) - O presidente argentino, Mauricio Macri, disse nesta segunda-feira que espera "reverter a eleição ruim de ontem", depois que a oposição conseguiu uma expressiva e surpreendente vantagem nas primárias, fato que derrubou as ações e a moeda da Argentina.
Macri culpou a oposição de centro-esquerda pela queda nos índices financeiros, dizendo que o candidato peronista Alberto Fernández não inspira confiança nos investidores.
As ações e o peso despencaram 30% nesta segunda, com temores de um possível retorno às políticas intervencionistas, depois que o ortodoxo Macri perdeu por uma margem muito maior do que a esperada para a oposição nas primárias presidenciais.
O peso recuperou parte das perdas, negociado a 52,15 por dólar, depois de ter caído para uma mínima histórica de 61,99 por dólar. O banco central vendeu 105 milhões de dólares de suas próprias reservas, que não eram usadas desde setembro do ano passado, para defender a taxa de câmbio.
O principal índice de ações do país registrou a maior queda de sua história, com todos os componentes no vermelho, enquanto o custo de proteção contra um calote da dívida soberana da Argentina disparou quase 1.000 pontos-base.
"Confio que vamos reverter esse resultado ruim de ontem e que vamos ter uma eleição mais parelha em outubro que irá permitir que cheguemos ao segundo turno", disse o presidente em uma coletiva de imprensa.
Com 98,7% das urnas apuradas, a coalizão Frente de Todos, de Fernández, tinha conseguido 47,7% dos votos, contra 32,1% do Juntos pela Mudança, de Macri, segundo a contagem oficial.
Fernández disse que buscaria "retrabalhar" o acordo de 57 bilhões de dólares da Argentina com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Uma porta-voz do FMI se recusou a comentar o resultado das eleições primárias argentinas, citando uma política de não comentar sobre desdobramentos políticos.
Apesar das dificuldades de Macri para endireitar a economia do país sul-americano, investidores vêem a candidatura de Fernández como uma perspectiva mais arriscada.
Macri, herdeiro de uma das famílias mais ricas da Argentina, chegou ao poder em 2015 com promessas de recuperar a terceira maior economia da América Latina com uma onda de medidas liberais.
Mas a prometida recuperação não se materializou, e a Argentina passa por recessão com uma inflação acima de 55%.
Uma grave crise financeira no ano passado atingiu o peso e forçou Macri a tomar um empréstimo no FMI em troca da promessa de equilibrar o déficit público argentino.
O resultado de domingo indica que Fernández tem apoio suficiente para garantir a vitória eleitoral no primeiro turno em outubro, sem precisar do segundo turno em novembro.
Um candidato precisa de ao menos 45% dos votos, ou 40% e uma diferença de 10 pontos percentuais sobre o segundo colocado para assegurar uma vitória já no primeiro turno.