CARACAS (Reuters) - O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, alertou nesta terça-feira que ele e apoiadores irão pegar em armas caso seu governo socialista seja violentamente derrubado por oponentes que estão nas ruas protestando há três meses.
"Estou dizendo ao mundo, e espero que o mundo escute após 90 dias de protestos, destruição e mortes", disse Maduro em referência à agitação antigoverno que levou a ao menos 75 mortes no país desde abril.
"Caso a Venezuela fosse afundada no caos e violência e a Revolução Bolivariana fosse destruída, iríamos ao combate. Nunca iríamos desistir, e o que não pôde ser feito com votos, faríamos com armas, iríamos libertar a pátria com armas."
Maduro, de 54 anos, falava em comício para promover uma votação em 30 de julho para um super-órgão especial chamado de Assembleia Constituinte, que pode reescrever a Constituição e substituir outras instituições, como o Congresso, controlado pela oposição.
Ele promoveu a assembleia como única maneira de levar paz à Venezuela. Mas oponentes, que querem seguir com a próxima eleição presidencial, marcada para o final de 2018, dizem ser uma votação fraudulenta feita para manter os socialistas no poder.
Eles estão boicotando a votação e protestando diariamente nas ruas para tentar pará-la. Líderes da oposição chamam Maduro de um ditador que destruiu uma economia que já foi próspera, enquanto Maduro os chama de violentos líderes golpistas.
Maduro, que acusa Washington de apoiar seus oponentes e buscar controlar a nação rica em petróleo, disse que a "destruição" da Venezuela iria levar a uma gigantesca onda de refugiados, superando a crise de imigrantes no Mediterrâneo.
"Escute, presidente Donald Trump", disse.
"Você teria que construir 20 muros no mar, um muro do Mississippi à Flórida, da Flórida a Nova York, seria loucura... Você tem a responsabilidade: pare a loucura da violenta ala direita venezuelana."
A oposição à votação de 30 de julho não vem somente de partidos venezuelanos da oposição, mas também da procuradora-geral Luisa Ortega e pesos-pesados que já foram do governo, como o ex-chefe do serviço de inteligência Miguel Rodríguez.
Em entrevista coletiva nesta terça-feira, Rodríguez criticou Maduro por não realizar um referendo antes da eleição da Assembleia Constituinte, como seu antecessor, Hugo Chávez, fez em 1999.
"Este é um país sem governo, isto é caos", disse. "As pessoas estão excluídas... Eles (o governo) estão buscando soluções fora da Constituição... Isto aprofunda a crise".