Por Brian Ellsworth
CARACAS (Reuters) - O governista Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) prometeu que a Assembleia Constituinte irá começar a aprovar leis rapidamente depois da eleição de domingo que a instaurou, apesar do boicote da oposição e do repúdio de governos estrangeiros que a consideraram uma afronta à democracia.
Ao menos 10 pessoas foram mortas em protestos realizados no domingo por opositores do impopular presidente Nicolás Maduro, que insiste que a Assembleia Constituinte irá trazer paz depois de quatro meses de manifestações que deixaram mais de 120 mortos.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) disse que 8,1 milhões de eleitores foram às urnas no domingo. A oposição estimou que só 2,5 milhões de votos foram depositados.
Os críticos de Maduro caracterizaram a eleição como uma tomada de poder descarada com o intuito de mantê-lo no comando, apesar do repúdio despertado por uma crise econômica que está provocando desnutrição e tornando difícil para os cidadãos obterem produtos básicos na nação de cerca de 30 milhões de habitantes.
A votação pode exacerbar a penúria econômica se os Estados Unidos --o principal mercado para o petróleo venezuelano-- cumprirem suas ameaças de sanções econômicas, e pode semear dúvidas entre os investidores a respeito da legitimidade de acordos financeiros apoiados pela nova Assembleia.
"A Assembleia Constituinte irá iniciar seu trabalho imediatamente", disse Diosdado Cabello, vice-presidente do PSUV, em um evento pós-votação em Caracas que culminou com o anúncio da contagem oficial de votos após a meia-noite e um discurso empolgado de Maduro.
"Bom dia, Venezuela. Temos uma Assembleia Constituinte!", gritou. "Peço a nossos compatriotas que cerrem as fileiras para que nossa Assembleia possa ser um lugar de diálogo".
No domingo, o Departamento de Estado dos EUA prometeu "ações fortes e rápidas contra os arquitetos do autoritarismo" que, de acordo com autoridades norte-americanas, envolverão sanções contra o setor de petróleo.
Aliados do PSUV obtiveram 545 assentos na nova Assembleia, que terá o poder de reescrever a Constituição, dissolver instituições estatais, como o Congresso atualmente dominado pela oposição, e demitir funcionários dissidentes.
"A Assembleia Constituinte não irá resolver nenhum dos problemas do país, só significa mais crise", disse o líder oposicionista Henrique Capriles em uma coletiva de imprensa, pedindo uma nova rodada de protestos ao meio-dia desta segunda-feira.
"A partir de amanhã, uma nova etapa da luta começa", afirmou Capriles.
(Reportagem adicional de Fabian Cambero, Diego Ore e Hugh Bronstein)