Por Elizabeth Piper e William James
LONDRES (Reuters) - A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, se curvou nesta segunda-feira à pressão de membros de seu Partido Conservador que apoiam a desfiliação britânica da União Europeia, conhecida como Brexit, aceitando as alterações que propuseram para um projeto de legislação aduaneira que está no cerne do rompimento de seu país com a UE.
May, vulnerável no Parlamento desde que perdeu a maioria de seu partido em uma eleição mal calculada no ano passado, se tornou alvo de críticas das duas alas de sua sigla por causa de um plano para o Brexit obtido a duras penas e que um ex-ministro classificou como o "pior de todos os mundos".
Parlamentares eurocéticos haviam atacado a legislação aduaneira de seu governo para tentar fortalecer os planos da premiê para a desfiliação, mas ao invés de dobrá-los e alimentar as tensões, seu porta-voz disse que o governo aceitará suas quatro emendas.
Não ficou claro se a manobra mudará fundamentalmente seus planos – as alterações fazem pouco mais do que transformar as diretrizes governamentais em lei, segundo seu porta-voz –, mas de certa forma foi uma vitória para os parlamentares que dizem que May os traiu no Brexit, a maior mudança nas políticas britânicas externa e comercial em décadas.
Mas ao endurecer a linguagem para enfatizar que a coleta futura de tarifas e impostos do Reino Unido e da UE será recíproca, os defensores do Brexit podem ter tornado o plano de May menos vendável ao bloco.
May refutou uma insinuação do Parlamento segundo a qual seu plano para o Brexit está morto, e seu porta-voz disse que a decisão de aceitar as emendas é "condizente" como a diretriz de governo conhecida como documento branco que os ministros chancelaram no início deste mês.
"Aceitamos as emendas porque acreditamos que elas são condizentes com a abordagem que escolhemos, e em vários casos ela reforça algumas das mensagens que apareceram no documento branco", disse o porta-voz aos repórteres.
Londres pode ter dificuldade para explicar a aceitação da exigência de que a UE recolha tarifas em nome do Reino Unido se Londres tiver que fazer o mesmo.
O porta-voz disse que isso foi respondido com o esforço do governo para encontrar "um mecanismo para a remessa de rendas de tarifas relevantes", mas o especialista Anand Menon, professor de políticas europeias e relações exteriores do King's College de Londres, disse que o relacionamento jamais poderia ser recíproco.
"De maneira nenhuma um documento branco do governo pode estipular que 27 outros países coletarão nossas tarifas por nós. Não faz sentido".
(Reportagem adicional de Andrew MacAskill e Michael Holden)