SANAA (Reuters) - Milhares de iemenitas saíram às ruas neste sábado no maior protesto até agora contra o grupo Houthi que domina o país, dois dias depois de a renúncia do presidente, Abd-Rabbu Mansour Hadi, ter jogado a nação num vácuo político.
Testemunhas disseram que uma multidão de aproximadamente 10 mil pessoas caminhou da Universidade de Sanaa até a casa de Hadi, a três quilômetros. Depois, os manifestantes voltaram ao ponto inicial, repetindo gritos críticos ao grupo xiita Houthi e à Al Qaeda, predominantemente sunita.
"Viva o povo iemenita. Não aos houthis e não ao Affash", gritava o povo, usando o apelido do ex-presidente Ali Abdullah Saleh, derrubado em 2011 por uma revolta popular contra seu regime de 33 anos.
Saleh também foi citado pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) por ajudar os houthis a capturar Sanaa, capital do país predominantemente sunita, em setembro.
Hadi, que deixou o cargo na quinta-feira, culpou o controle dos houthis sobre Sanaa pelo fracasso na tentativa de levar o Iêmen na direção da estabilidade após anos de revoltas, conflitos tribais, agravamento da pobreza e ataques com drones norte-americanos contra militantes sunitas.
Os houthis mantiveram Hadi prisioneiro em sua casa nesta semana. Eles o acusam de renegar o acordo de compartilhamento de poder assinado com os principais partidos políticos da nação em sua presença, quando eles tomaram Sanaa.
"Viemos hoje para rejeitar o golpe e o controle das milícias houthis na capital", disse uma estudante que se identificou como Maimouna e que segurava um cartaz contra os planos de incorporar os combatentes houthis ao Exército.
Manifestantes pararam o trânsito em frente à casa de Hadi, vaiaram combatentes houthis e gritaram: "Saiam, houthis, saiam!".
Os combatentes impediram manifestantes de chegarem perto da casa de Hadi, mas a distância entre os grupos e a polícia foi mantida, e o protesto terminou pacificamente, disseram testemunhas.
Protestos similares surgiram em outras províncias, incluindo Taiz, Hodeida, Al-Bayda e Ibb, disseram moradores.
Na sexta-feira, milhares de partidários dos houthis se juntaram em Sanaa e exibiram com cartazes que pediam "Morte à América, morte a Israel", um slogan que se tornou a marca do grupo.
Sem governo central em Sanaa, autoridades locais em algumas regiões do país disseram que não aceitariam mais ordens da capital, aumentando temores de que a nação possa começar a se dividir.
Tais declarações vieram de províncias que compunham o antigo Iêmen do Sul, onde um movimento de secessão pede a independência, e também da província de Marib, que é rica em petróleo e fica a leste de Sanaa.
O Parlamento iemenita deve se reunir no domingo para discutir a renúncia de Hadi. De acordo com a Constituição, o presidente do Parlamento, Yahya al-Ra'i, que é do partido político de Saleh, assume o cargo por período interino até que haja novas eleições.
(Reportagem de Mohammed Ghobari e Yara Bayoumy)