Por Kylie MacLellan e Michael Holden
LONDRES (Reuters) - O ministro de Justiça do Reino Unido, Michael Gove, pleiteou nesta sexta-feira a vaga de primeiro-ministro para tirar o país da União Europeia um dia depois de ter acabado com a chance de outro candidato bem posicionado graças ao que alguns colegas classificaram como um ato de traição.
A decisão de Gove, tomada na quinta-feira, de entrar na disputa para substituir o premiê David Cameron, que anunciou sua renúncia depois que os britânicos decidiram sair da UE em um referendo na semana passada, abalou a política britânica --anteriormente ele havia dito que iria apoiar o ex-prefeito de Londres Boris Johnson.
Seu comentário de que Johnson, com quem ele fez campanha em todo o país pela desfiliação da UE, não é capaz de fornecer a liderança e montar uma equipe para tarefa à frente pôs fim na prática às esperanças do político popular.
Agora cinco candidatos sonham em tomar o lugar de Cameron, e a ministra do Interior, Theresa May, é a favorita das casas de apostas. Parlamentares do governista Partido Conservador irão reduzir o número de postulantes para dois antes que uma decisão final seja tomada pelos correligionários, e o novo líder deve assumir em setembro.
A escolha pelo rompimento com a UE custou ao Reino Unido sua nota máxima das agências de classificação de risco, empurrou a libra esterlina para sua menor cotação diante do dólar desde meados dos anos 1980 e resultou em uma perda de 3 trilhões de dólares nos mercados de ações globais.
Enquanto isso, os líderes do bloco se esforçam para evitar um desmantelamento ainda maior da união que ajudou a garantir a paz na Europa do pós-Segunda Guerra Mundial.
"Tenho que dizer que nunca pensei que estaria nesta posição. Não a queria, de fato fiz quase tudo para não ser candidato para a liderança do partido", afirmou Gove em um discurso no centro de Londres ao lançar sua campanha.
Colegas conservadores que apoiavam Johnson despejaram injúrias em Gove. O próprio Johnson insinuou ter enxergado uma traição no discurso de quinta-feira no qual anunciou que não irá concorrer.
Tentando aparar as arestas com seu partido, Gove disse estar sendo motivado pela convicção, e não pela ambição, e que concluiu que Johnson não é o homem certo para o posto mais importante da nação.
(Reportagem adicional de Elizabeth Piper e Guy Faulconbridge)