Por Daniel Ramos
LA PAZ (Reuters) - O presidente boliviano, Evo Morales, concordou neste domingo em realizar nova eleição presidencial, depois que um relatório condenatório da Organização dos Estados Americanos (OEA) encontrou sérias irregularidades em uma votação de 20 de outubro vencida pelo líder esquerdista.
A vitória de Morales no mês passado provocou protestos generalizados no país.
O relatório da OEA, divulgado neste domingo, informou que a eleição de outubro deveria ser anulada após ter encontrado "manipulações claras" do sistema de votação, o que significava que não era possível verificar o resultado, de uma vantagem de pouco mais de 10 pontos de Morales sobre seu rival Carlos Mesa.
Morales também disse, durante entrevista coletiva em La Paz, que substituirá o órgão eleitoral do país. O departamento tem sido alvo de fortes críticas após uma interrupção inexplicável da contagem de votos que provocou amplas denúncias de fraude e levou à auditoria da OEA.
Quando questionado se seria candidato na nova eleição, Morales afirmou a uma estação de rádio local que "as candidaturas precisam ser secundárias, o que vem primeiro é pacificar a Bolívia", acrescentando que ele tem o dever constitucional de terminar seu mandato.
Por sua vez, Mesa afirmou que Morales e o vice-presidente Álvaro Garcia Linera não deveriam presidir o processo eleitoral ou serem candidatos.
"Se vocês têm um pingo de patriotismo, devem se afastar", disse Mesa em uma entrevista coletiva.
Morales, que chegou ao poder em 2006 como o primeiro líder indígena da Bolívia, defendeu sua vitória nas eleições, mas disse que seguiria as conclusões da auditoria da OEA.
A turbulência da eleição abalou Morales, um sobrevivente da "maré rosa" esquerdista da América Latina de duas décadas atrás. A crise ameaça derrubar o ícone esquerdista num momento em que líderes de esquerda voltaram ao poder no México e na Argentina.
O impasse de semanas sobre a disputada eleição aumentou no fim de semana, quando as forças policiais foram vistas participando de protestos contra o governo, e os militares disseram que não "confrontariam o povo" sobre a questão.