WASHINGTON (Reuters) - O ativista norte-americano dos direitos civis e ex-líder da NAACP (associação de defesa dos direitos da população negra), Julian Bond, que surgiu como um dos estudantes ativistas mais prominentes nos turbulentos anos 1960, morreu no sábado aos 75 anos.
Bond morreu em Fort Walton Beach, na Flórida, de acordo com comunicado do SPLC (Southern Poverty Law Center), que não informou a causa do óbito. Bond foi o primeiro presidente do SPLC, organização internacional dedicada aos direitos civis.
"O país perdeu uma de seus mais apaixonadas e eloquentes vozes pela causa da justiça", disse Morris Dees, fundador do Southern Poverty Law Center.
Bond foi presidente do SPLC de 1971 a 1979. De 1998 a 2010, ele foi presidente da NAACP.
"Julian Bond foi um herói e, eu sou privilegiado em poder dizer isso, um amigo. Justiça e igualdade eram a missão que guiava sua vida", disse o presidente norte-americano Barack Obama em comunicado. "Julian Bond ajudou a mudar esse país para melhor."
Na época em que Bond surgia no cenário nacional durante o agitado verão de 1968, o então ativista negro de 28 anos já estava se juntando ao panteão dos grandes ativistas pelos direitos civis nos EUA.
Neto de escravo, ele chegou a Chicago naquele ano para a convenção do Partido Democrata na função de líder de um grupo de insurgentes políticos vindos da Geórgia.
Durante a convenção, os norte-americanos testemunharam as intensas imagens de protestos de rua, brutalidade policial e anarquia política em um país que já fervilhava com a Guerra do Vietnã, a discriminação racial e a disparidade econômica.
Bond foi o primeiro negro nomeado para a vice-presidência dos Estados Unidos por um grande partido político, mas teve que desistir da candidatura porque era sete anos mais jovem que o necessário para ocupar o segundo cargo mais alto da democracia norte-americana.
Mesmo antes da convenção dos democratas, Bond já havia acumulado feitos significativos. Quando estudava na Universidade de Morehouse em 1960, organizou um grupo que realizava manifestações pacíficas com o objetivo de poder frequentar salas de cinema, balcões de lanchonete e outros locais públicos em Atlanta.
Na sequência, foi um dos fundadores do Comitê Não-Violento de Coordenação Estudantil, organizado por estudantes universitários negros que se manifestavam pacificamente em todo o Sul do país.
"Fui um dos muitos que agarrou a oportunidade que as manifestações dos anos 1960 ofereciam --que era combater a segregação do jeito mais simples: sentando", disse Bond em entrevista à Reuters em 2006.
Em 1965, Bond foi eleito pelo Partido Democrata para a Câmara dos Representantes da Geórgia. Mas membros daquela legislatura se recusaram a empossá-lo, citando sua oposição à Guerra do Vietnã, uma postura que eles consideravam "repugnante" e "inconsistente" diante do juramento que ele deveria fazer.
Para Bond, seus opositores tinham uma motivação muito maior do que sua opinião sobre a guerra.
"Suspeito fortemente que minha raça também foi um motivo. Eu era parte de um grupo de parlamentares negros eleitos para a Câmara pela primeira vez desde a Reconstrução (fim da Guerra Civil)", disse Bond em 2006.
Antes que Bond fosse autorizado a ocupar a cadeira na Câmara da Geórgia um ano mais tarde, ele teve que vencer duas vezes uma reeleição para seu próprio assento vago, e a Suprema Corte norte-americana acabou decidindo por unanimidade que seus direitos haviam sido violados. Bond acabou servindo por 20 anos como deputado e depois senador pela Geórgia.
Em 1986, Bond se empenhou em uma mal sucedida campanha pela Câmara dos Representantes dos EUA em Washington, sendo derrotado por outro gigante dos direitos civis, John Lewis.
Bond também deu aula em diversas universidades e se tornou um aclamado escritor. Nos últimos anos, era comentarista regular no "The Today Show", e chegou a apresentar o famoso programa de comédia da NBC "Saturday Night Live."
Ele deixa sua segunda esposa, Pamela Horowitz, e cinco filhos, de acordo com o Southern Poverty Law Center.
(Por Richard Cowan)