Por Rinat Harash
JERUSALÉM (Reuters) - À medida que escurece, Adeeb Joudeh, um muçulmano, abre caminho através das vielas de pedra da Cidade Velha murada de Jerusalém portando a antiga chave de um dos maiores santuários do cristianismo.
Séculos atrás, a impotente chave de aço da Igreja do Santo Sepulcro, erguida no local em que muitos cristãos acreditam que Jesus foi crucificado e enterrado, foi confiada à sua família, um dos clãs mais proeminentes de Jerusalém, conta Joudeh.
Ele situa o arranjo nos tempos de Saladin, o conquistador muçulmano que tomou a cidade sagrada dos Cruzados em 1187.
"Honestamente, é um grande honra para um muçulmano cuidar da chave da Igreja do Santo Sepulcro, que é a igreja mais importante da cristandade", disse Joudeh, de 53 anos.
O trabalho exige mãos fortes: a chave tem 30 centímetros de comprimento e pesa 250 gramas.
Outra das famílias muçulmanas mais antigas da cidade, dos Nusseibeh, foi encarregada de abrir e fechar as portas da igreja, uma tarefa que realiza até os dias de hoje.
Historiadores divergem sobre as raízes do arranjo. Alguns pesquisadores afirmam que Saladin muito provavelmente atribuiu a guarda às duas famílias para garantir o domínio muçulmano sobre a cristandade na cidade. Ele também tem implicações financeiras, já que uma taxa é cobrada dos visitantes na porta.
Mas a documentação só remonta ao século 16, disse Joudeh exibindo dezenas de "Fermans", ou decretos reais de regentes do Império Otomano, que atribuem a guarda da chave à sua família.
Hoje a Cidade Velha de Jerusalém abriga locais que são sagrados para as três maiores religiões monoteístas. Junto com áreas do leste de Jerusalém foram capturadas por Israel da Jordânia na Guerra dos Seis Dias de 1967.