CIDADE DO VATICANO (Reuters) - O papa Francisco disse nesta quarta-feira que os políticos não deveriam fechar portos para imigrantes desesperados, falando depois que um tribunal deu sinal verde para prosseguir com uma investigação contra o ex-ministro do Interior anti-imigrantes da Itália Matteo Salvini.
"Em todo o mundo, homens e mulheres imigrantes enfrentam viagens arriscadas para escapar da violência, da guerra e da pobreza", afirmou Francisco durante audiência geral semanal no Vaticano.
"Muitas vezes, eles não têm permissão para desembarcar nos portos... são explorados por traficantes criminosos! Alguns políticos os tratam como números e os veem como uma ameaça", disse ele, deixando de lado em parte seu discurso preparado.
Os comentários do papa, que tem feito da defesa dos imigrantes uma parte essencial de seu pontificado, ocorrem dois dias depois de uma decisão do comitê do Senado italiano que pode levar a um julgamento de Salvini por suposto sequestro de imigrantes.
Em julho de 2019, Salvini, que apostou sua credibilidade política na promessa de conter a imigração da África, ordenou que 131 imigrantes resgatados permanecessem em um navio na Sicília por seis dias até que outros Estados europeus concordassem em aceitá-los.
O tribunal da cidade siciliana de Catania --um tribunal especial encarregado de investigações contra ministros-- recomendou no mês passado que ele fosse julgado sob a acusação de deter ilegalmente imigrantes no navio da guarda costeira Gregoretti.
Se for considerado culpado, o líder da Liga, de extrema-direita, atualmente o partido mais popular da Itália, poderá pegar até 15 anos de prisão. Ele também poderia ser barrado de cargos políticos, arriscando suas ambições de liderar um futuro governo.
Salvini disse que enfrentaria um eventual julgamento "com a cabeça erguida".
O papa não mencionou o caso contra Salvini, que muitas vezes criticou Francisco por sua defesa dos imigrantes.
(Reportagem de Philip Pullell)