Por Dan Williams e Matt Spetalnick
WASHINGTON (Reuters) - O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, aconselhou o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, nesta terça-feira a não aceitar um acordo nuclear com o Irã, que seria "uma contagem regressiva para um pesadelo nuclear em potencial" por parte de um país que "sempre será um inimigo da América".
"Se o acordo sendo negociado atualmente for aceito pelo Irã, esse acordo não irá impedir o Irã de desenvolver armas nucleares – irá praticamente garantir que o Irã obtenha essas armas nucleares, muitas delas", disse o líder israelense no discurso de 39 minutos ao Congresso norte-americano, durante o qual fez uma crítica detalhada da diplomacia de Obama para o Irã.
Em uma aparição que tensionou as relações entre EUA e Israel e foi boicotada por dezenas de democratas, Netanyahu afirmou que o regime do Irã está "radical como sempre", que não é confiável e que o pacto em negociação com potências mundiais não irá frear a caminhada de Teerã rumo à bomba, "mas abre caminho para a bomba".
"Este acordo não será uma despedida às armas, será uma despedida ao controle das armas... uma contagem regressiva para um pesadelo nuclear em potencial", declarou o premiê aos legisladores e visitantes da Câmara dos Deputados. Ele foi aplaudido de pé 26 vezes.
Mais cedo, o israelense foi recebido no local ao som ensurdecedor de vivas e aplausos e trocou apertos de mão com dezenas de parlamentares, incluindo John Boehner, presidente da Câmara, antes de subir ao pódio e afirmar aos congressistas estar profundamente comovido.
No início do discurso, ele procurou minimizar a forte politização de seu comparecimento, que agravou as divisões entre republicanos e democratas no tocante à abordagem da Casa Branca para evitar que o Irã obtenha armas nucleares.
Netanyahu disse estar agradecido a Obama por seu apoio público e pessoal a Israel, incluindo a assistência militar e as contribuições ao sistema antimíssil israelense Domo de Ferro.
"Lamento que alguns vejam minha presença aqui como política", declarou. "Sei que, não importa de que lado do corredor estejam sentados, vocês estão com Israel".
O discurso aprofundou sua campanha contra a abordagem diplomática de Obama para o Irã, colocando níveis inéditos de estresse nas relações entre os dois líderes.
Embora tenha sido tratado com frieza pelo governo, Netanyahu se mostrou conciliador ao dizer que não pretendeu desrespeitar Obama ao aceitar um convite para se dirigir aos congressistas dos EUA que foi orquestrado pelos rivais republicanos do presidente.
Ele declarou que os EUA não deveriam aliviar suas restrições até que Teerã "mude seu comportamento", comentário que pode fortalecer a determinação dos republicanos de manter sanções contra o Irã ou até intensificá-las. Mas o líder do Estado judeu não pediu especificamente por novas penalidades, algo que Obama já afirmou que minaria as conversas em andamento e que levaria a um veto caso aprovadas pelo Congresso.
Cerca de 60 dos 232 democratas do Congresso se ausentaram do discurso para protestar contra o que veem como uma politização da segurança de Israel, tema a respeito do qual a legislatura geralmente concorda.
A ausência de tantos legisladores pode gerar pressão política em Netanyahu a duas semanas da eleição geral de Israel. Muitos israelenses se ressentem do distanciamento de um aliado que fornece a seus país um amplo apoio militar e diplomático.
Na segunda-feira, Obama pareceu descartar qualquer possibilidade de que a firme aliança dos EUA com Israel possa ser arruinada pelo rancor.
(Reportagem adicional de Patricia Zengerle, Matt Spetalnick e Doina Chiacu)