Por Andy Sullivan e Helen Coster e Tim Reid e Richard Cowan
WASHINGTON (Reuters) - Dois meses após Donald Trump sobreviver por pouco a uma tentativa de assassinato, um atirador se escondeu sem ser detectado por quase 12 horas na beira do campo de golfe onde Trump jogou no último domingo, sob a proteção de uma agência que está sendo levada ao limite.
À medida que a eleição presidencial de 2024 entra em sua reta final, o Serviço Secreto dos EUA está operando com cerca de 400 funcionários a menos do que o Congresso autorizou, segundo registros do governo.
Não é provável que o problema seja resolvido antes da eleição de 5 de novembro porque a agência normalmente leva mais de 200 dias para preencher vagas abertas.
Desde que o presidente dos EUA, Joe Biden, encerrou sua candidatura à reeleição em julho e a vice-presidente Kamala Harris assumiu como candidata democrata em uma disputa acirrada contra o republicano Trump, o Serviço Secreto teve que expandir sua cobertura de proteção para um grupo maior de autoridades.
Isso colocou uma pressão sem precedentes sobre a agência, de acordo com entrevistas com três ex-agentes do Serviço Secreto e um ex-chefe do departamento que o supervisiona.
"O ritmo, as expectativas e a pressão nunca foram tão grandes como agora", disse Kenneth Valentine, um ex-agente, em entrevista por telefone.
O desejo de Trump de jogar golfe, em particular, em um de seus clubes na Flórida, no domingo, também significou que os agentes não realizaram o tipo de verificação de rotina no local que poderia tê-los levado a encontrar o suposto atirador antes que Trump chegasse a algumas centenas de metros do local onde o homem havia se escondido por horas, com comida, perto do quinto buraco do campo de golfe Trump International.
O diretor interino do Serviço Secreto, Ronald Rowe -- que assumiu o cargo em julho, quando a antiga líder da agência pediu demissão após Trump sobreviver por pouco à primeira tentativa de assassinato -- diz que seus agentes já estão trabalhando com altos níveis de estresse.
Democratas e republicanos no Congresso dizem que podem aprovar financiamento adicional nas próximas semanas. Mas isso fará pouco no curto prazo para resolver a falta de pessoal que força os agentes a trabalhar longas horas em situações de pressão.
O risco de fracasso ficou claro em 13 de julho, quando um atirador disparou seis tiros do alto de um prédio em um comício de Trump na Pensilvânia, matando um participante do comício e atingindo de raspão a orelha do candidato republicano.
Os agentes do Serviço Secreto rapidamente levaram Trump para um local seguro e mataram o atirador, mas os líderes da agência reconhecem que ele nunca deveria ter sido capaz de disparar.
AGÊNCIA "ENVERGONHADA"
Rowe disse a parlamentares, em 30 de julho, que estava "envergonhado" com as falhas de segurança no incidente.
No domingo, um agente do Serviço Secreto avistou o suspeito de ser um atirador no campo de golfe da Flórida, vislumbrando o cano de seu rifle estilo AK-47. O agente abriu fogo, afastando-o antes que ele tivesse uma linha de visão direta de Trump ou pudesse disparar um tiro.
O suspeito, Ryan Routh, foi preso pouco tempo depois.
Ainda assim, especialistas em segurança questionam por que a agência não o encontrou antes.
"Como Routh não foi visto por uma equipe avançada? O (Serviço Secreto) usou um drone sobre o campo de golfe? Cães? Se não, por que não?", disse Lora Ries, que supervisionou o Serviço Secreto como uma das principais autoridades do Departamento de Segurança Interna dos EUA durante o governo Trump.
Rowe disse a repórteres que o passeio de golfe de Trump no domingo não foi anunciado ao público. Isso significa que a agência não montou uma intensa varredura de segurança com antecedência, o que poderia ter sinalizado sua chegada iminente.
(Reportagem de Andy Sullivan, Helen Coster, Tim Reid e Richard Cowan)