Por Stephanie Nebehay
GENEBRA (Reuters) - O alto comissário da Organização das Nações Unidas (ONU) para os direitos humanos expressou nesta quarta-feira a forte suspeita de que "atos de genocídio" podem ter sido cometidos desde agosto contra muçulmanos rohingyas em Rakhine, no norte de Mianmar.
Relatos de encobrimento de supostas valas comuns revelaram uma "tentativa deliberada das autoridades de destruir provas de crimes internacionais em potencial, incluindo possíveis crimes contra a humanidade", acrescentou Zeid Ra'ad al-Hussein em discurso ao Conselho de Direitos Humanos da ONU.
Quase 700 mil rohingyas fugiram de Rakhine para Bangladesh desde que ataques de insurgentes provocaram uma operação de repressão em agosto, juntando-se a 200 mil refugiados de um êxodo anterior.
Zeid observou que na terça-feira seu escritório disse acreditar que uma "faxina étnica" ainda está em andamento em Rakhine.
Os rohingyas continuam fugindo por causa de uma perseguição "sistemática", ainda que de baixa intensidade, e de episódios de violência no local, disse.
"Vítimas relataram assassinatos, estupros, tortura e sequestros praticados pelas forças de segurança e por milícias locais, além de tentativas aparentemente deliberadas de forçar os rohingyas a deixarem a área fazendo-os passar fome, com autoridades impedindo seu acesso às lavouras e a suprimentos de comida", disse Zeid ao fórum de Genebra.
"Este Conselho está ciente de que o meu escritório tem fortes suspeitas de que atos de genocídio podem ter ocorrido no Estado de Rakhine desde agosto", acrescentou.
O governo de Mianmar não comentou de imediato. No Conselho, sua delegação tem direito de responder até quinta-feira.
O escritório de Zeid recebeu relatos de que terras habitadas por rohingyas estão sendo apropriadas e que membros de outros grupos étnicos estão tomando seu lugar.
"Um anúncio recente de que sete soldados e três policiais serão levados à justiça pela suposta execução extrajudicial de dez homens rohingyas é inteiramente insuficiente".
O governo de Mianmar precisa adotar medidas reais para a atribuição de responsabilidade por violações e respeitar os direitos dos rohingyas, incluindo sua cidadania, disse Zeid.