(Reuters) - A Organização das Nações Unidas registrou mais de 1.600 incidentes de violações de direitos contra pessoas detidas pelas autoridades talibans, quase metade deles atos de tortura e maus-tratos, principalmente por policiais e agentes de inteligência, segundo um relatório divulgado nesta quarta-feira.
A Missão da ONU no Afeganistão (Unama) disse que 18 pessoas também morreram em prisões e sob custódia da polícia e da inteligência nos 19 meses terminando em julho de 2023.
Os talibans têm contratado e controlado a polícia e a agência de inteligência desde que assumiram o controle do país com a retirada das forças estrangeiras em 2021.
"Nas tentativas de extrair confissões ou outras informações, os detidos foram submetidos a dor e sofrimento severos, por meio de espancamentos físicos, choques elétricos, asfixia, posições de estresse e ingestão forçada de água, bem como ameaças", disse a Unama em um comunicado.
Outras violações incluíram não ser informado sobre o motivo da prisão, não ter acesso a um advogado e cuidados médicos inadequados durante a custódia.
Cerca de uma em cada dez violações foi contra mulheres. Jornalistas e membros da sociedade civil representaram quase um quarto das vítimas das violações.
Em uma resposta publicada com o relatório, o Ministério das Relações Exteriores liderado pelo Taliban disse que o número de violações relatadas não era exato, especialmente o número de jornalistas ou defensores da sociedade civil afetados.
O ministério afirmou que as autoridades e o judiciário estavam trabalhando para aumentar a supervisão e garantir o cumprimento dos decretos do líder supremo que proibiam a tortura ou confissões forçadas.
A ONU disse que os decretos e a permissão de acesso às prisões eram "sinais encorajadores", mas pediu mais ações para corrigir a situação.
"Esses casos documentados destacam a necessidade de ação urgente e acelerada por parte de todos", disse Roza Otunbayeva, representante especial do secretário-geral para o Afeganistão e chefe da Unama. "Há uma necessidade urgente de considerar um maior envolvimento com as autoridades de fato para acabar com essas práticas."
(Reportagem de Charlotte Greenfield)