Por Eyanir Chinea e Corina Pons
CARACAS (Reuters) - As forças de segurança da Venezuela dispararam gás lacrimogêneo contra manifestantes que realizavam o que classificaram como a "mãe de todas as passeatas" contra o presidente Nicolás Maduro nesta quarta-feira, e dois estudantes foram mortos.
Apoiadores da oposição protestaram em Caracas e outras cidades, criticando Maduro por arruinar a democracia e mergulhar a economia no caos. As multidões chegaram às centenas de milhares, incluindo apoiadores de Maduro que realizaram uma contramanifestação na capital incentivados pelo presidente.
As passeatas opostas renderam comparações com os confrontos entre manifestantes pró e antigoverno de 2002 que desencadearam um breve golpe de Estado contra o falecido líder Hugo Chávez.
Um estudante de 18 anos, Carlos Moreno, morreu ao ser envolvido por acidente em um confronto. Ele estava indo jogar futebol em Caracas e não planejava participar do protesto quando defensores do governo se aproximaram de uma aglomeração de opositores e abriram fogo, de acordo com testemunhas e um familiar. Moreno foi baleado na cabeça, disseram.
Outra estudante, Paola Ramírez, de 24 anos, morreu por um disparo de supostos apoiadores do governo durante um protesto na cidade de San Cristóbal, disseram à Reuters familiares e testemunhas.
Brandindo a bandeira da nação e gritando "Chega de ditadura" e "Saia, Maduro", manifestantes interditaram um trecho da principal rodovia de Caracas. Soldados usaram gás lacrimogêneo nos bairros da capital e na cidade fronteiriça de San Cristóbal.
"Temos que protestar porque este país está morrendo de fome", disse Alexis Mendoza, administrador de 53 anos que marchava no bairro El Paraiso de Caracas. "Há muitas pessoas da oposição e elas estão cheias de coragem".
A manifestação se seguiu a uma quinzena de protestos violentos nos quais cinco pessoas foram mortas, motivados por uma decisão do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) de março por meio da qual a corte assumiu os poderes do Congresso de maioria opositora – e que a revogou rapidamente devido à pressão internacional.
Mas a medida alimentou uma revolta já antiga com a maneira como o governista Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) administra a economia. O país exportador de petróleo sofre com uma escassez de alimentos e de bens de consumo de estilo soviético e com uma inflação de três dígitos.
A oposição está exigindo um cronograma para as eleições estaduais adiadas, o fim da repressão aos protestos e respeito pela autonomia da legislatura dominada pelos opositores.
Maduro afirma que os protestos recentes foram pouco mais do que esforços da oposição para fomentar a violência e derrubar seu governo.
Analistas dizem que a probabilidade de um golpe contra Maduro é menor porque Chávez realizou um grande expurgo nas Forças Armadas após sua breve deposição.
Os manifestantes se reuniram em mais de uma dúzia de locais no entorno de Caracas e esperavam convergir até a ouvidoria estatal.
Iniciativas anteriores de realizar a marcha foram impedidas pela Guarda Nacional. Em muitos casos os protestos terminaram com jovens atirando pedras contra as forças de segurança em confrontos que se arrastaram noite adentro.
Outra medida recente que provocou revolta foi a decisão da controladoria nacional de impedir o líder opositor e duas vezes candidato presidencial Henrique Capriles de ocupar cargos eletivos por 15 anos, o que acabou com sua esperança de chegar à Presidência.
(Reportagem adicional de Eyanir Chinea, Diego Ore and Andreina Aponte em Caracas, German Dam em Ciudad Guayana, Maria Ramirez em Puerto Ordaz, Isaac Urrutia em Maracaibo e Anggy Polanco em San Cristóbal)