Por Philip Pullella
CIDADE DO VATICANO (Reuters) - O papa Francisco lamentou o que chamou de uma Igreja Católica "reacionária" nos Estados Unidos, onde, segundo ele, a ideologia política substituiu a fé em alguns casos.
Nos 10 anos desde sua eleição, Francisco tem sido criticado por setores conservadores da Igreja dos EUA que se opõem a reformas como dar mais funções às mulheres e aos católicos leigos e tornar a Igreja mais acolhedora e menos crítica em relação a alguns, incluindo pessoas LGBT.
Francisco fez seus comentários em 5 de agosto em uma reunião privada em Lisboa com membros da ordem dos jesuítas, da qual ele faz parte, durante sua viagem para a Jornada Mundial da Juventude. Eles foram publicados na segunda-feira pela revista jesuíta Civilta Cattolica.
Em uma sessão de perguntas e respostas, um jesuíta português disse que durante um período sabático nos Estados Unidos ele ficou triste com o fato de muitos católicos, incluindo alguns bispos, serem hostis à liderança do papa.
"Vocês viram que nos Estados Unidos a situação não é fácil: há uma atitude reacionária muito forte. Ela é organizada e molda a maneira como as pessoas pertencem, até mesmo emocionalmente", respondeu o papa.
Os conservadores religiosos nos Estados Unidos muitas vezes se alinham com os meios de comunicação politicamente conservadores para criticar o papa em relação a uma série de questões, como mudança climática, imigração, justiça social, seus apelos para o controle de armas e sua oposição à pena de morte.
"O senhor esteve nos Estados Unidos e disse que sentiu um clima de fechamento. Sim, esse clima pode ser experimentado em algumas situações", disse Francisco.
"E lá, a pessoa pode perder a verdadeira tradição e se voltar para as ideologias em busca de apoio. Em outras palavras, a ideologia substitui a fé, a participação em um setor da Igreja substitui a participação na Igreja", disse ele.
Francisco disse que seus críticos deveriam entender que "há uma evolução apropriada na compreensão das questões de fé e moral" e que ser retrógrado é "inútil".
Como exemplo, ele disse que alguns pontífices de séculos atrás eram tolerantes com a escravidão, mas a Igreja evoluiu.
Um dos mais ferozes críticos norte-americanos do papa, o cardeal Raymond Burke, que fica baseado em Roma, escreveu em uma introdução de um livro recente que uma reunião de bispos convocada por Francisco para outubro deste ano para ajudar a traçar o futuro da Igreja corria o risco de semear "confusão, erro e divisão".
(Reportagem de Philip Pullella)