Por Philip Pullella
CIDADE DO VATICANO (Reuters) - O papa Francisco não pretendia glorificar o imperialismo russo quando exaltou os czares que expandiram o império russo, disse o Vaticano nesta terça-feira, após comentários da semana passada que foram criticados pela Ucrânia, mas saudados pelo Kremlin.
Francisco disse a jovens russos, em comentários improvisados na sexta-feira, que se lembrassem de que são herdeiros de czares do passado, como Pedro 1º e Catarina 2ª.
Os dois monarcas, ambos referidos como “grandes” pelos historiadores, expandiram a Rússia para um enorme império nos séculos 17 e 18, incluindo a conquista de partes da Ucrânia. O presidente Vladimir Putin invoca os seus legados para justificar a invasão e anexação de território ucraniano no ano passado.
“O papa pretendia encorajar os jovens a preservar e promover tudo o que há de positivo na grande herança cultural e espiritual russa, e certamente não exaltar a lógica imperialista e as personalidades governamentais, (que ele) mencionou para indicar alguns períodos históricos de referência”, disse o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, em um comunicado.
Francisco tinha afirmado: “Vocês são herdeiros da grande Rússia – a grande Rússia dos santos, dos reis, a grande Rússia de Pedro o Grande, de Catarina 2ª, o grande império russo, culto, tanta cultura, tanta humanidade. Vocês são os herdeiros da grande mãe Rússia. Vão em frente."
Kiev classificou os comentários como "profundamente lamentáveis".
“É precisamente com esta propaganda imperialista, os ‘laços espirituais’ e a ‘necessidade’ de salvar a ‘grande Mãe Rússia’ que o Kremlin justifica o assassinato de milhares de ucranianos e a destruição de cidades e aldeias ucranianas”, disse Oleg Nikolenko, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia, no Facebook (NASDAQ:META).
O ex-presidente da Estônia Toomas Hendrik Ilves, cujo país foi conquistado pela Rússia sob Pedro 1º, classificou as falas do papa como "verdadeiramente revoltantes", numa publicação no X, anteriormente conhecido como Twitter.
O arcebispo Sviatoslav Shevchuk, chefe da Igreja Católica de Rito Oriental na Ucrânia leal ao papa, disse em comunicado que as palavras do pontífice causaram “grande dor e preocupação”.
No entanto, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, elogiou as declarações: “O pontífice conhece a história russa e isso é muito bom”, disse ele.
“O que o Estado (russo), os grupos ativistas, os professores das escolas e das universidades estão fazendo agora é levar esta herança aos nossos jovens, lembrando-lhes dela”, afirmou Peskov. “E o fato de o pontífice falar em uníssono com esses esforços é muito, muito gratificante”.
A embaixada do Vaticano em Kiev disse em comunicado que o papa era um “firme oponente e crítico de qualquer forma de imperialismo ou colonialismo” e rejeitou o que descreveu como “interpretações” midiáticas dos comentários do papa.
O papa Francisco tem criticado abertamente a invasão da Ucrânia pela Rússia, mas ocasionalmente irritou Kiev por comentários improvisados considerados como apoio à narrativa de Moscou.
(Reportagem de Philip Pullella e Alvise Armellini, reportagem adicional de Guy Faulconbridge e Mark Trevelyan)