Por Philip Pullella
YANGON (Reuters) - O papa Francisco exortou os principais monges budistas de Mianmar nesta quarta-feira a reconciliarem pessoas de etnias e religiões diferentes no momento em que o país emerge de quase cinco décadas de controle militar ainda dividido por conflitos étnicos e tensões comunitárias.
O pedido ecoou um apelo de paz que ele fez mais cedo, em uma missa, no terceiro dia de uma visita diplomaticamente delicada devido a uma operação de repressão militar que provocou a fuga de cerca de 625 mil muçulmanos rohingyas do país predominantemente budista.
Em um discurso feito na terça-feira, o papa evitou o termo 'rohingya', seguindo conselhos de assessores do Vaticano que temiam que a menção causasse um incidente diplomático e virasse o governo e os militares de Mianmar contra a minoria cristã.
Mas seu clamor por justiça, direitos humanos e respeito por todos foi visto por muitos como aplicável aos rohingyas, que não são reconhecidos como cidadãos ou membros de um grupo étnico distinto.
Ao discursar em sua visita ao Conselho Supremo Sangha de monges budistas em Yangon, Francisco pediu "uma testemunha comum de líderes religiosos" e lamentou que "as feridas dos conflitos, a pobreza e a opressão persistam" em muitos lugares.
A reunião, disse, foi uma oportunidade para os budistas e a minúscula comunidade católica "afirmarem um compromisso com a paz, o respeito pela dignidade humana e a justiça para cada homem e mulher".
"Se é para nos unirmos, como é nosso objetivo, precisamos superar todas as formas de mal entendido, intolerância, preconceito e ódio", afirmou.
Mais uma vez ele evitou se referir ao êxodo de rohingyas do Estado de Rakhine ao extremo sul de Bangladesh, que começou no final de agosto, quando os militares reagiram a ataques de militantes rohingyas a uma base do Exército e a postos de segurança da polícia.
Dezenas de vilarejos rohingyas foram incendiados, e refugiados que foram para Bangladesh relataram assassinatos e estupros. O Exército de Mianmar negou as acusações de assassinato, estupro, tortura e deslocamento forçado.
Bhaddanta Kumarabhivamsa, líder do conselho budista indicado pelo governo, disse ao papa que todas as religiões têm como metas a paz e o amor e que o terrorismo se origina da falta de fé.
"É muito triste ver o terrorismo e o extremismo acontecendo em nome da religião no mundo hoje em dia", disse.