Por Catarina Demony e Philip Pullella
LISBOA, 31 Jul (Reuters) - Centenas de milhares de jovens de todo o mundo viajaram a Portugal para receber o papa Francisco quando ele chegar na quarta-feira para encerrar um encontro mundial da juventude católica apelidado de "Woodstock Católico".
No entanto, a sombra do escândalo de abuso sexual da igreja estará no pano de fundo como um lembrete de quanto trabalho ainda precisa ser feito para a instituição deixar o problema para trás.
A Jornada Mundial da Juventude, evento idealizado pelo falecido papa João Paulo 2º para formar jovens católicos na adolescência ou no começo dos 20 anos, é realizada a cada dois ou três anos em uma cidade diferente. Esta será a primeira desde 2019 devido à pandemia de Covid-19.
Dois palcos foram montados em diferentes locais onde os jovens se reunirão para missas, vigílias e outros encontros sociais e religiosos.
O Vaticano disse que cerca de 330.000 jovens se inscreveram e muitos mais podem comparecer. As autoridades portuguesas disseram que mais de 1 milhão de pessoas são esperadas.
Francisco, de 86 anos, que está fazendo sua primeira viagem desde que passou por uma cirurgia intestinal em junho e está usando cadeira de rodas e bengala, também se reunirá com líderes políticos e diplomatas.
A viagem e o evento juvenil acontecem menos de seis meses depois de um relatório de uma comissão portuguesa afirmar que pelo menos 4.815 menores foram abusados sexualmente por clérigos -- na sua maioria padres -- ao longo de 70 anos.
"Nada pode reparar a experiência e a vida dessas mais de 4.800 vítimas", disse em seu site um grupo de conscientização sobre abuso chamado This Is Our Memorial. "O que podemos e devemos fazer é lembrar delas. Dar voz a elas. Para que o que aconteceu não volte a acontecer."
O grupo está planejando colocar grandes cartazes ao ar livre para aumentar a conscientização sobre o abuso sexual do clero. Um grupo de protesto separado planejou uma manifestação para sexta-feira na praça Martim Moniz, em Lisboa.
O cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, disse em coletiva de imprensa que a igreja está totalmente empenhada em abordar o assunto.
Espera-se que Francisco se encontre em particular com vítimas de abuso, mas o Vaticano não confirmou e, se o encontro ocorrer, será anunciado após o evento para garantir a privacidade.
"Isso é para facilitar o processo de cura, que é sempre pessoal, íntimo e requer tempo para ouvir", disse o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni.
Os jovens que participam do encontro vão se hospedar em escolas, ginásios, quartéis de bombeiros e com famílias, e muitos pretendem dormir ao ar livre na noite anterior à missa de encerramento no Parque Tejo, em Lisboa.
O primeiro-ministro português, António Costa, disse que a Jornada será "o maior evento internacional" que Portugal já recebeu.
No sábado, Francisco voará de helicóptero para uma parada de duas horas em Fátima, onde a Igreja acredita que Nossa Senhora apareceu a três pastorinhos pobres em 1917. Cerca de meio milhão de pessoas são esperadas lá.