PESHAWAR, Paquistão (Reuters) - O Paquistão abriu mais centros de fronteira nesta sexta-feira para acelerar o retorno de dezenas de milhares de afegãos sem documentos, disse uma autoridade, dois dias depois que o prazo para a saída antes da expulsão expirou e ignorando os pedidos para repensar o plano.
O Paquistão tem ignorado os pedidos da Organização das Nações Unidas (ONU), de grupos de direitos humanos e de embaixadas ocidentais para reconsiderar a expulsão de mais de um milhão dos 4 milhões de afegãos no país, dizendo que eles estavam envolvidos em ataques de militantes islâmicos e em crimes que prejudicavam a segurança do país. O Afeganistão nega as acusações.
A agência de refugiados da ONU, a Organização Internacional para Migração e o Fundo das Nações Unidas para a Infância expressaram nesta sexta-feira preocupação com a segurança das crianças e famílias afetadas pela expulsão, dizendo que uma crise humanitária estava se desenrolando com a chegada do inverno.
O mulá Hassan Akhund, primeiro-ministro da administração liderada pelo Taliban no Afeganistão, também expressou reservas.
"É 100% contra todos os princípios, venha e converse cara a cara", disse ele em uma declaração gravada em vídeo.
As instalações da principal passagem de fronteira de Torkham, no noroeste do país, foram triplicadas para atender ao crescente número de repatriados, disse Abdul Nasir Khan, vice-comissário do distrito de Khyber.
"Tudo está normal agora, pois os repatriados não precisam mais esperar em filas por horas", disse ele à Reuters.
Os que estão chegando ao Afeganistão reclamaram das dificuldades.
"Passamos três dias na fronteira com o Paquistão. Passamos por uma situação muito ruim", disse Mohammad Ismael Rafi, de 55 anos, que contou ter vivido por 22 anos na cidade de Chaman, na fronteira sudoeste do Paquistão, onde tinha um negócio de varejo.
A administração do Taliban, lutando para lidar com o súbito influxo, criou campos de trânsito temporários onde serão fornecidos alimentos e assistência médica.
Grupos de refugiados relataram cenas caóticas e desesperadoras nos campos.
Muitos dos imigrantes fugiram do Afeganistão durante as décadas de conflito armado desde o final da década de 1970, enquanto a tomada de poder pelo Taliban após a retirada das forças de coalizão lideradas pelos EUA em 2021 levou a outro êxodo.
Khan disse que 19.744 afegãos cruzaram a fronteira de Torkham na quinta-feira, 147.949 no total desde que o governo anunciou o prazo. Mais de 35.000 saíram pela passagem de fronteira do sudoeste do Paquistão, em Chaman.
(Por Mushtaq Ali em Peshawar e Mohammad Yunus Yawar em Cabul)