Por Francois Murphy
VIENA (Reuters) - O primeiro-ministro conservador austríaco, Sebastian Kurz, sofreu o maior revés de uma carreira meteórica nesta segunda-feira, quando o Parlamento o retirou do comando do governo em reação a um vídeo que destruiu sua coalizão com a extrema-direita.
Kurz, astro dos conservadores da Europa que é conhecido por sua postura severa sobre imigração, parecia inatacável algumas semanas atrás, até o líder do Partido da Liberdade (FPO), seu então aliado de extrema-direita, se envolver em um escândalo com um vídeo que o levou a renunciar e forçou Kurz a desfazer a aliança entre os dois.
O premiê de 32 anos se tornou, então, o chefe de um governo interino e esperava usar a posição como uma plataforma para a reeleição, retratando-se como mais uma vítima da crise atual do que como seu causador.
Mas a oposição de centro-esquerda disse que ele partilha da culpa, e o FPO a apoiou.
"Kurz apostou errado em suas chances e, senhor chanceler, o senhor tem plena responsabilidade", disse o vice-chefe do bloco parlamentar social-democrata, Joerg Leichtfried, em um discurso aos parlamentares minutos antes de seu partido apresentar uma moção de desconfiança contra o governo de Kurz.
A primeira moção de desconfiança bem-sucedida contra um governo da Áustria desde que o país recuperou sua independência em 1955 foi aprovada graças ao endosso de parlamentares sociais-democratas e do FPO.
Agora o presidente austríaco, Alexander Van der Bellen, precisa indicar um novo primeiro-ministro para que este monte um governo interino capaz de durar até a próxima eleição.
Embora em princípio Kurz possa participar novamente, a opção é altamente improvável.
Kurz havia substituído ministros demissionários do FPO por servidores civis, argumentando que, embora liderasse o que era essencialmente um governo de minoria, este representava estabilidade na esteira do escândalo do vídeo e antes de uma eleição parlamentar que muitos esperam para setembro.
Ele também prometeu uma investigação total sobre qualquer crime e irregularidade derivados da filmagem que deu origem à crise, na qual Heinz-Christian Strache, um veterano do FPO, pareceu se oferecer para conseguir contratos governamentais para uma mulher que se passava pela sobrinha de um oligarca russo.
(Reportagem adicional de Kirsti Knolle, em Viena, e Michael Shields, em Zurique)