Por Silene Ramírez e Carlos Garcia Rawlins
CARACAS (Reuters) - Apoiadores do governo invadiram nesta quarta-feira a Assembleia Nacional da Venezuela, liderada pela oposição, disseram testemunhas, atacando parlamentares e jornalistas no mais recente confronto violento em meio à crise política que atinge o país.
Horas após a invasão, uma multidão de cerca de 100 pessoas chegou a sitiar o prédio, impedindo a saída das pessoas que estavam dentro, segundo testemunhas. Algumas das pessoas do lado de fora chegaram a ostentar pistolas e algumas gritaram que iriam cortar fornecimento de água e energia elétrica.
No início da noite algumas pessoas começaram a deixar o prédio, disseram testemunhas. O presidente da Assembleia, Julio Borges, afirmou que 350 pessoas, entre políticos, jornalistas e convidados ficaram sitiados no local. Cinco parlamentares de oposição que ficaram feridos se recuperavam no hospital.
Uma multidão se reuniu desde cedo do lado de fora do prédio da Assembleia Nacional, no centro de Caracas, gritando a favor do presidente Nicolás Maduro. Repentinamente, dezenas de pessoas correram pelos portões com canos, bastões e pedras e seguiram para o ataque.
O grupo feriu parlamentares da oposição que ficaram ensanguentados e atordoados pelos corredores da Casa, disseram testemunhas. Alguns dos jornalistas também foram roubados.
O parlamentar com ferimento mais grave, Federico De Grazia, foi atingido na cabeça e ficou inconsciente, sendo eventualmente levado em uma maca para uma ambulância. Sua família disse posteriormente que ele está fora de estado crítico e que estava recebendo pontos.
“Esta é a Venezuela hoje”, disse Freddy Guevara, vice-presidente da Assembleia e líder da oposição. “Criminosos atacam a Assembleia Nacional, as Forças Armadas são cúmplices nesta loucura, mas o povo e os parlamentares resistem e avançam.”
Ao longo do dia, explosões aparentemente de fogos de artifício foram ocasionalmente escutadas nos arredores do prédio da Assembleia.
O centro de Caracas tem sido palco de uma série de confrontos desde que a oposição derrotou o governista Partido Socialista nas eleições parlamentares de dezembro de 2015.
“Estamos sequestrados”, disse o parlamentar da oposição William Davila de dentro do Congresso, onde políticos estavam transmitindo os eventos ao vivo de seus celulares.
Em um discurso durante uma parada militar no Dia da Independência, Maduro condenou a “estranha” violência na Assembleia e pediu uma investigação. Mas ele também desafiou a oposição a falar sobre a violência de dentro de seu lado da disputa.
Durante três meses de agitações anti-governo, nas quais ao menos 90 pessoas morreram, jovens manifestantes têm frequentemente atacado forças da segurança com pedras, morteiros de fabricação caseira e coquetéis molotov e queimado propriedades. Eles mataram um homem ao molhá-lo com gasolina e colocá-lo em chamas.
“Quero paz para a Venezuela”, disse Maduro. “Eu não aceito violência de ninguém.”