Por Richard Cowan e Steve Holland
WASHINGTON (Reuters) - Parlamentares norte-americanos, incluindo algumas lideranças republicanas, pediram nesta terça-feira uma investigação mais profunda sobre as relações da Casa Branca com a Rússia, depois que Michael Flynn, conselheiro de segurança nacional, se demitiu na maior mudança no gabinete do presidente Donald Trump até agora.
Flynn deixou o cargo na segunda-feira após somente três semanas no posto em meio a revelações de que ele tinha discutido sanções norte-americanas contra a Rússia com o embaixador de Moscou nos EUA antes de Trump assumir o poder, numa ação potencialmente ilegal, e mais tarde havia enganado o vice-presidente Mike Pence sobre a conversa.
Trump pediu a demissão depois que o seu grau de confiança em Flynn se reduziu ao ponto de ele sentir que precisava fazer a mudança, disse Sean Spicer, porta-voz da Casa Branca. “A erosão dessa confiança, francamente, foi o problema”, afirmou ele.
A saída de Flynn é mais um distúrbio para um governo que tem sofrido repetidas vezes com tropeços e dramas internos desde que o presidente republicano assumiu o poder no dia 20 de janeiro.
Transcrições de comunicações interceptadas, descritas por autoridades norte-americanas, mostraram que o tema das sanções foi citado em conversas entre Flynn e o embaixador em dezembro passado.
As conversas ocorreram na ocasião em que o então presidente Barack Obama impunha sanções contra a Rússia depois de acusar Moscou de usar ciberataques para tentar influenciar as eleições presidenciais de 2016 a favor de Trump.
Flynn, uma ex-autoridade de inteligência dos EUA, deixou o governo horas depois de um relatório informar que o Departamento de Justiça havia alertado a Casa Branca semanas atrás que ele poderia ser vulnerável a chantagem por conta das suas conversas com o embaixador Sergei Kislyak.
Democratas, que não têm o controle do Congresso, pediram uma ação maior relacionada a Flynn, e perguntaram o quanto Trump sabia sobre as suas conexões com a Rússia.
“O povo norte-americano merece saber sob a direção de quem o general Flynn estava agindo quando ele fez isso, e por que a Casa Branca esperou até esses relatórios se tornarem públicos para tomar uma medida”, disse o democrata Mark Warner, vice-presidente do comitê de inteligência do Senado, em comunicado.
Duas lideranças republicanas no Senado, Bob Corker e John Cornyn, também afirmaram que o comitê de inteligência deveria investigar os contatos de Flynn com a Rússia. Corker declarou que Flynn pode precisar testemunhar em sessão no Congresso.
O senador republicano Roy Blunt, integrante do mesmo comitê, afirmou a uma rádio de St. Louis que o painel deve entrevistar Flynn “muito em breve” como parte da investigação sobre as tentativas russas de influenciar as eleições norte-americanas.
Contudo, o principal republicano no Congresso, o presidente da Câmara dos Deputados, Paul Ryan, evitou perguntas sobre se os parlamentares devem examinar os laços da Rússia com Flynn, dizendo que ele deixaria que o governo Trump explicasse as circunstâncias da saída do conselheiro.
O Washington Post relatou na semana passada que o tema das sanções foi citado nas conversas com o embaixador, apesar de Flynn ter dito a Pence que isso não havia ocorrido.
No seu primeiro comentário público sobre a saída de Flynn desde a demissão, Trump desviou o foco em relação a vazamentos no seu governo. “A história real aqui é por que há tantos vazamentos ilegais saindo de Washington? Esses vazamentos estarão acontecendo quando eu lidar com a Coreia do Norte e etc?”, escreveu ele no Twitter.