Por Sarah Marsh
BERLIM (Reuters) - O partido Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema-direita, deve ficar em primeiro lugar em pelo menos uma de das duas eleições em Estados no leste do país no próximo domingo, aumentando a pressão sobre a coalizão federal do chanceler Olaf Scholz em questões como economia, imigração e apoio à Ucrânia.
O AfD, com 11 anos de existência e maior apoio no leste, anteriormente controlado pelos comunistas na época da divisão entre Alemanha Ocidental e Alemanha Oriental, dificilmente conseguirá formar um governo estadual, mesmo que vença, porque não deve ter maioria, segundo as pesquisas, e outros partidos se recusam a colaborar com ele.
Mas será a primeira vez que um partido de extrema-direita terá o maior número de assentos em um Parlamento estadual alemão desde a Segunda Guerra Mundial, e sua força complicará a formação de coalizões e poderá permitir que ele bloqueie mudanças constitucionais e nomeações de alguns juízes.
Segundo as pesquisas, o AfD está com 30% das intenções de voto na Turíngia, quase 10 pontos à frente dos conservadores, em segundo lugar, e empatando com eles na Saxônia, com cerca de 30% a 32%. A recém-criada Aliança Sahra Wagenknecht (BSW), de extrema-esquerda, deve ficar em terceiro lugar em ambos os Estados.
Os fortes ganhos dos dois partidos anti-establishment anunciam a crescente instabilidade na maior economia da Europa, refletindo uma fragmentação do cenário político que também pode complicar os esforços para formar governos nacionais coerentes.
O tema da imigração, marca registrada do AfD, ganhou destaque na agenda após um ataque com faca há uma semana na cidade de Solingen, no oeste do país, no qual um suspeito de 26 anos de ser membro do Estado Islâmico da Síria foi acusado de matar três pessoas.
"Queremos acabar com o fracasso do Estado, com a perda de controle", disse a co-líder do AfD, Alice Weidel, em um evento de campanha na quarta-feira em Dresden. "Isso só pode ser feito por meio de uma mudança sustentável na política de imigração e asilo."
O BSW, que leva o nome da sua fundadora, uma ex-comunista, também se opõe à imigração e ao apoio militar à luta da Ucrânia contra a invasão russa; ambos os partidos buscam melhores relações com Moscou.
Espera-se que todos os três partidos da coalizão federal de Scholz percam votos nas eleições estaduais e dois deles podem até mesmo ter dificuldades para atingir a exigência mínima de 5% para entrar no Parlamento. A sua popularidade em baixa pode significar um retorno a uma aliança liderada pelos conservadores na eleição nacional do próximo ano.
Líderes empresariais alertaram sobre a ameaça do extremismo de extrema-direita à maior economia da Europa, dizendo que isso poderia dificultar a atração de mão de obra qualificada e investimentos. Os políticos alemães afirmam que a retórica populista tem alimentado agressões físicas.
O AfD é liderado na Turíngia por Björn Höcke, um homem que alguns membros do partido consideraram tão extremista que tentaram expulsá-lo.
O ex-professor de História chamou o memorial de Berlim ao Holocausto dos judeus europeus pela Alemanha nazista de "monumento da vergonha" e foi condenado no início deste ano por usar um slogan nazista em um comício do partido.
(Reportagem de Sarah Marsh; reportagem adicional de Thomas Escritt e Maria Martinez)